quinta-feira, 19 de agosto de 2010
São Paulo é um reduto do conservadorismo?
Por Altamiro Borges
Até agora, as sondagens eleitorais dos quatro maiores institutos de pesquisa confirmam a tese de que São Paulo, o principal centro industrial e financeiro do país e que concentra a maior fatia do eleitorado brasileiro (22,3%), tornou-se o reduto do conservadorismo nativo. Enquanto na maior parte do Brasil, Dilma Rousseff, que expressa a continuidade do ciclo progressista aberto pelo presidente Lula, dispara nas pesquisas, neste estado a situação ainda é desvantajosa.
Forte hegemonia demotucana
Apesar da queda na diferença, José Serra, o candidato das elites, mantém folgada vantagem nas sondagens para a sucessão presidencial. Ele aposta todas suas fichas no estado para garantir sua ida ao segundo turno. Já o direitista Geraldo Alckmin, cria do regime militar e seguidor do Opus Dei, pode vencer o pleito para o governo estadual já no primeiro turno. Caso esse prognóstico se confirme, os demotucanos obterão a quinta vitória consecutiva em São Paulo.
Em 2006, PSDB e DEM fizeram barba e cabelo. É certo que o “picolé de chuchu” perdeu votos entre o primeiro e o segundo turno, fato inédito na história; mas o bloco conservador-neoliberal consolidou a sua hegemonia no estado. Elegeu o governador em primeiro turno e uma expressiva bancada de deputados federais e estaduais. Nas eleições municipais de 2008, o DEM conquistou a prefeitura da capital e o PSBD foi vitorioso em importantes cidades do interior paulista.
O paraíso dos rentistas
Quais as razões desta forte hegemonia dos demotucanos no estado, que destoa do restante do país no qual se verifica uma tendência mais progressista nas eleições. No livro “Os ricos no Brasil”, o economista Marcio Pochmann revela que São Paulo se transformou no paraíso de rentistas e das camadas médias abastadas. O Estado, que já foi a locomotiva industrial do país e hoje mais se parece com um cemitério de fábricas, é o principal centro da oligarquia financeira. Das 20 mil famílias que especulam com os títulos da dívida pública, quase 80% reside em São Paulo.
Esta elite preconceituosa mora em condomínios de luxo, desloca-se em helicópteros (a segunda maior frota do mundo) e carros blindados (a maior frota do planeta), e consome em butiques de luxo, como a contrabandista Daslu. Ela não tem qualquer identidade ou compromisso com a nação, estando totalmente apartada da realidade de penúria dos brasileiros. Ela ainda influência uma ampla camada média, que come mortadela e arrota caviar. Estas são as principais bases de sustentação e apoio do bloco neoliberal e de movimentos golpistas e racistas, como o “Cansei”.
Direita enraizada no poder
No outro extremo, como apontam vários livros recentes sobre sindicalismo, o violento processo de desindustrialização do Estado, que resultou em desemprego, informalidade e precarização do trabalho, golpeou a combativa classe operária e fragilizou os seus sindicatos, enfraquecendo a influência política das forças mais vinculadas às lutas dos trabalhadores. Nas eleições de 2006, por exemplo, a bancada de deputados ligada ao sindicalismo perdeu terreno no estado. Estes dois fatores objetivos, entre outros, explicariam a forte hegemonia dos neoliberais em São Paulo.
Há também causas subjetivas. A direita paulista domina todos os poderes no estado. É maioria na Assembléia Legislativa, conseguindo abortar mais de 70 pedidos de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs); tem forte peso no Poder Judiciário, com a nomeação de vários representantes das elites; conta com o apoio da mídia, que concentra no estado as matrizes dos seus impérios e garante blindagem ao tucanato e ódio aos setores oposicionistas. E há ainda os erros das próprias forças progressistas, que são tímidas e ineficientes no combate ao neoliberalismo no estado.
Laboratório e palanque dos neoliberais
Estes e outros fatores transformaram São Paulo no laboratório e também o principal palanque dos neoliberais no país. Daqui operam as maiores referências da direita “moderna”, como FHC, Geraldo Alckmin e José Serra, e as mais poderosas entidades empresariais, como a federação das indústrias (Fiesp) e a dos banqueiros (Febraban). Daqui se irradiam as manipulações da mídia, com as redações da revista Veja, dos jornais Folha e Estadão e das maiores emissoras de TV. Toda a orquestração para barrar as mudanças no Brasil parte atualmente de São Paulo.
As eleições de 2010 indicarão se as mudanças promovidas pelo governo Lula poderão fazer ruir a hegemonia demotucana no estado. O aumento do poder aquisitivo dos trabalhadores, alavancado pela valorização do salário mínimo, os programas sociais, como Bolsa Família, que já beneficia mais de um milhão de famílias paulistas, e a geração de emprego podem abalar o domínio dos conservadores em São Paulo. Mas isto depende do poder de convencimento da militância social.
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