terça-feira, 30 de março de 2010

Gilson Caroni: Mídia e o eterno retorno do discurso golpista

publicado no Viomundo
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/gilson-caroni-midia-e-o-eterno-retorno-do-discurso-golpista.html

28 de março de 2010 às 9:21


por Gilson Caroni Filho, em Carta Maior

As recentes críticas do presidente da República à mídia brasileira devem ser lidas à luz de um recorte deontológico preciso. Se um dos compromissos fundamentais do jornalismo é a preservação da memória, a imprensa nativa tem, ao longo das últimas décadas, empregado uma estrutura discursiva recorrente para produzir esquecimento. A preocupação de Lula com o hipotético estudante que, daqui a trinta anos, se debruçará sobre mentiras quando folhear o noticiário dos grandes jornais, não só tem fundamento como deveria preocupar os historiadores. Afinal, qual será o valor dos nossos periódicos como fontes primárias de consulta? Em princípio, nenhum. Salvo se a pesquisa for sobre o discurso noticioso e os interesses mais retrógados
Ao tentar colar o rótulo de “estatistas” nas propostas estratégicas do governo, e apresentar o Partido dos Trabalhadores e a ministra Dilma Roussef como defensores de um “Estado-empresário” a mídia corporativa dá um passo a mais na escala do ridículo. Quer fazer crer que não acabou a era da ligeireza econômica, da irresponsabilidade estatal ante a economia, do infausto percurso da razão financista.
Fazendo tábua rasa das conseqüências do mercado desregulado, oculta o que marcou o governo de Fernando Henrique Cardoso: baixa produtividade e alta especulação, baixo consumo e elevadas taxas de desemprego, pobreza generalizada e riqueza concentrada. Prescreve como futuro promissor um passado fracassado. Esse é o eterno retorno dos editorialistas e articulistas de programa. Um feitiço no tempo que atualiza propostas desconectadas do contexto de origem.
Vejam a semelhança dos arrazoados. Tal como nos planos dos estrategistas do modelo de desenvolvimento implantado no país com o golpe de 1964, sem a propensão “estatizante” do governo Jango, o Brasil progrediria nos moldes do capitalismo mais antigo. Livres da intervenção do Estado na economia, da” permissão à desordem pelos “comandos de greve”- e pela” infiltração comunista”- voaríamos em céu de brigadeiro. O desenvolvimento, pregavam os editoriais escritos há 46 anos, seria ininterrupto, para todo o sempre, sem qualquer risco de fracasso. Note-se que a peroração golpista se assentava nos mesmos pilares dos textos de hoje: denúncias de corrupção, aparelhamento do Estado e criminalização dos movimentos sociais com o manifesto propósito de estabelecer uma ordem pretoriana no mundo do trabalho.
O enfraquecimento prematuro ou tardio de setores da classe dominante – com a conseqüente a crise de hegemonia política – tornava decisiva a luta pelo controle do Estado. Sob as bênçãos da maioria dos jornalões, a classe média, conduzida pelos políticos mais reacionários, pela TFP e pelas Ligas Católicas de direita, foi às ruas participar de “Marchas da família com Deus pela Liberdade”.
Os resultados práticos do regime militar não demoraram a surgir: a entrada de poupança externa foi inexpressiva; não se criou indústria nacional e autônoma nenhuma; o financiamento interno serviu para o desenvolvimento das indústrias basicamente estrangeiras de automóveis e eletrodomésticos que formavam o setor dinâmico da economia brasileira, puxando o comércio, serviços e indústrias locais também vinculados a esse pólo. Ao fim, o paraíso prometido foi uma quimera cara, com uma dívida externa estimada em 12 bilhões de dólares.
Ainda assim não faltam nostálgicos,muitos alojados na ANJ e Abert, a proclamar que “vivemos um momento grave, com investidas de inimigos da liberdade de imprensa, propostas que ferem o sentimento religioso do povo brasileiro”, sem falar das hostilidades aos nossos mais tradicionais aliados, com gestos generosos a caudilhos.
Falam de cercos fiscais, regulatórios e ambientais à iniciativa privada, e lamentam não haver substitutos para Oscar Correa, Silvio Heck, Odilo Denis e outros notórios golpistas. Tal como os grandes jornais que tiveram as tiragens reduzidas, as viúvas do “milagre” de Roberto Campos, Delfim Neto, Ernane Galveas e Mário Henrique Simonsen não se dão conta que não falam para quase ninguém. A reduzida base social não lhes permite margem de manobra mais ampla.
Se para a população ficou claro que o país precisa crescer distribuindo, e, para isso, cabe ao Estado criar políticas capazes de desconcentrar a renda, os editoriais do Globo, Estadão e Folha são escritos para quem? Longe de ser apenas uma questão ética, a questão social também é econômica. E o confronto com a mídia uma questão decisiva para que não tenhamos um arremedo de democracia.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

sábado, 27 de março de 2010

Por que Datafolha cheira mal

A Folha, o DataFolha e os Frias. Se não estão no rolo...

Você sabe porquê o Ibope mede a audiência?
Você sabe porquê o Datafolha faz pesquisa eleitoral?
Há pouco tempo a tv Record denunciou um flagrante roubo nos números de audiência e explicava na matéria que esses números garante milhões em termos de anunciantes e patrocinadores.
A lógica das pesquisas não é diferente, ao menos em termos de capital eleitoral que rende alianças e apoios vitais aos candidatos.
Por essas razões não dá para confiar no IBOPE, não dá para confiar no DataFolha.
Vejo o que argumentou Eduardo Guimarães:

Saiu no Azenha (Vi o Mundo)

27 de março de 2010 às 16:09
Eduardo Guimarães: Por que Datafolha cheira mal
Atualizado às 11h42m de 27 de março de 2009

por Eduardo Guimarães, em Cidadania.com

Vários fatores estão gerando suspeita sobre a pesquisa Datafolha feita de afogadilho na quinta e na sexta-feira e publicada hoje, começando pela pressa e pelo sigilo que envolveram a sua realização.
O próximo fator que salta aos olhos é a conveniência dessa sondagem para o governador José Serra, notoriamente o candidato a presidente da família Frias, dona do grupo Folha, justamente na véspera de seu afastamento do governo do Estado e do lançamento da sua candidatura.
O terceiro fator está contido na análise do diretor do Datafolha, Mauro Paulino, na Folha, valendo-se da platitude de que “pesquisas são flagrantes do momento” e que podem mudar, pois parece plantar uma “explicação” para o previsível desmentido dessa pesquisa por outros institutos
O último fator, tão subjetivo quanto os anteriores, é o de que estamos falando de um instituto de pesquisas de opinião que pertence à Folha de São Paulo, aquele jornal que não hesitou em publicar, em sua primeira página, falsificação grosseira de ficha policial da grande adversária de Serra.
A pesquisa tenta se justificar exacerbando os pontos mais frágeis da ministra Dilma Rousseff, como a maior dificuldade dela entre as pessoas do mesmo sexo e do Sul do país, arrematando com as propagandas de Serra na TV e sua intensa incursão nos programas de auditório, ou com ele ter admitido que é candidato e por estar chovendo menos em São Paulo.
Nada explica, porém, que, tão repentina e intensamente, as mulheres e o Sul do país tenham descoberto que amam Serra. Duvido de que uma declaração dele de que é candidato ou acontecerem um pouco menos desastres em São Paulo lhe permitiriam angariar cerca de 7,5 milhões de votos (cada ponto percentual vale 1,5 milhão) tão rapidamente.
A pesquisa Datafolha é de uma conveniência inacreditável para Serra. Ele deve ser o político mais sortudo do mundo. Esses números serão usados para ajudar a fechar apoios políticos à sua candidatura e a soterrar resistências dentro do seu partido e entre seus aliados externos.
Finalmente, concluo que essa manipulação escandalosa permitirá ver até que ponto o PT está preparado para enfrentar uma campanha desse nível. Se o partido, de uma forma ou de outra, não encomendar pesquisas com celeridade, permitindo, assim, que o factóide surta efeito, será preocupante.
Por outro lado, se o PT mostrar que está antenado e disposto a enfrentar a guerra eleitoral que se avizinha, a Folha e seu grupo político poderão descobrir que fizeram uma aposta muito alta ao falsificarem uma pesquisa de forma tão grosseira.
E por que o Datafolha foi a campo
Há um outro fator que torna ainda mais estranha a pesquisa Datafolha divulgada neste sábado. Para entendê-lo, vejamos a freqüência com que o instituto de pesquisas tem ido a campo para a avaliar a sucessão presidencial.
As últimas três sondagens aconteceram de 14 a 18 de dezembro de 2009, de 24 a 25 de fevereiro de 2010 e, surpresa!, meros 30 dias depois. E, à diferença de suas pesquisas anteriores, não houve divulgação de que esta ocorreria.
Por que o Datafolha foi a campo tão rápida, sigilosa e inesperadamente? Terá alguma coisa que ver com o lançamento iminente da candidatura Serra, aquela que eu dizia, de novo na contramão da maioria, que era inexorável?

O apagão global

O post reproduzido ao final, publicado no Nassif, resgata mais um dos recentes golpes do PIG. Além de tentarem de tudo para culpar Lula e a ex-Ministra de Engergia, Dilma, pelo apagão, tentaram comparar o problema técnico com o blackout do FHC, que foi por falta de produção, mesmo, pura incompetência que levou a oito meses de racionamento. Quem pagou na época foi o consumidor.
Aproveitei para resgatar um texto que escrevi para denunciar como a Globo montou um espetáculo sem-vergonha e que não deu certo. Comparem em seguida, no post do blog do Nassif, a entrevista dada por Dilma (na íntegra) com a edição espetaculosa do Bom Dia Brasil protagonizada com calhordismo pelo ex porta-voz do governo militar, Alexandre Garcia.

Na época escrevi para amigos por e-mail:

Só para sossegar os amigos que temem por novos apagões ou o final do mundo antes de 21/12/2012.


Seria cômico!
Após as 22:15 desta terça, sem luz, liguei o radinho do celular e fiquei ouvindo a CBN, para saber o que se passava. Antes das 23 já sabia que o apagão pegava Rio, Sampa e litoral paulista. Muitas informações óbvias vinham dos repórteres em repetidos “aqui as ruas estão completamente escuras”.
Jura?
Lá pelas tantas sabia-se que todas as turbinas de Itaipu pararam totalmente pelo sistema de emergência, o que indicava que algumas torres, sem poder transmitir, acionaram o sistema de segurança. Um professor engenheiro da Universidade de Brasília explicava que isso acontece para não haver sobrecarga no restante da transmissão, causando estragos maiores. Daí em diante cabe aos operadores fazer testes e ligar aos poucos as turbinas para descobrir a falha e superá-las. Os motivos podiam ser inúmeros.
Aí começou o circo. Encheram o especialista de pergunta para achar uma falha (política) que alimentasse o arsenal tucano: faltou energia, faltou investimento, falta usina, falta rede de transmissão???????????. Negativa após negativa, o especialista explicava a diferença do que aconteceu em 2001. Naquela época o Brasil produzia menos do que precisava. De lá para cá temos mais hidrelétricas e mais água, o suficiente (e de sobra), para nossas necessidades (e com sobra) e podendo acionar termoelétricas (poluentes) se a coisa um dia apertar. Quanto à transmissão, a rede foi toda interligada desde então de forma que se houver sobra no Sul, pode distribuir para o Norte e vice-versa. Geração, confere, transmissão, confere. Mesmo dito tudo isso, a “genial” musa do jornalismo global, a menina do Jô, Lúcia Hipólita, por telefone, filosofando o quanto somos dependentes da energia elétrica, disse que só aqui não se preparava para o verão onde se gasta mais energia. Culpava Lula por reduzir o IPI da linha branca. Ou seja, na opinião da leiga, a despeito do que dissera o especialista, o apagão se dera porque os pobres trocaram as geladeiras velhas por outras mais econômicas. Tenho uma geladeira aqui (bege) com mais de 20 anos e não sabia que estava sendo ecologicamente correto ao mantê-la. Uma Secretária (de saneamento ou sei lá do que) dizia de forma confusa que dava (ou não) para evitar o apagão em São Paulo e dizia para não se preocupar que aqui não ia faltar água, pois a SABESP tinha geradores para distribuir a água. Ok, entendemos essa parte.
A madrugada foi e eu dormi. Pela manhã, o desespero no “Bom Dia, Brasil” era maior. Disparam em outro Engenheiro e Professor. As mesmas perguntas e respostas. Só faltou perguntar: mas não dá pra culpar o Lula ou a Dilma, mesmo? Foi ridículo. O melhor que a Globo pôde conseguir foi a resposta: “Evitar? Há muitos especialistas no mundo estudando uma forma de resolver esse problema e prevenir essa situação” A solução seria informatizar e automatizar toda a rede elétrica, porém, uma tecnologia que pode ser feita, mas não está pronta. Já que os especialistas não respondem o que eles querem, chamem aquela tal Secretária, é, aquela, a do Serra. Mais bem preparada, disse leigamente, “poderia ser evitada, sim - o governador Serra (é claro) já fez um pedido ao Ministro para ... blá, blá, blá ... blá, blá, blá ... foi atendido, mas ainda não está pronto ... blá, blá, blá ... blá, blá, blá ... o Rio tem mais que São Paulo, que absurdo ... blá, blá, blá ... blá, blá, blá ... Os globais sossegaram. Não precisaram fazer perguntas porque ouviram o que queriam.
Após um dia de trabalho, CBN, hora do rush. Outro especialista reforçava as declarações do ministro, a estrutura é robusta, e os investimentos foram feitos. Ainda, exemplificou para o não conformado jornalista entender: um engenheiro faz um prédio para uma região onde se espera ventos de até 100 km/h. A probabilidade de um vento maior que isso em 100 ou 1000 anos é mínima, mas existe. Um dia, um vento de 200 por hora derruba o prédio. Pode-se culpar o Engenheiro? Claro que não. Encerrou o Engenheiro para a infelicidade global.
Depois do jogo, deixa dá uma olhadinha no Jornal da Globo, só por curiosidade. O quê? Em São Paulo faltou água de manhã? O cara da SABESP dizia que precisava de energia para distribuir água? Peraí ... Mas aquela mulher, é, aquela, a do Serra, ela não disse que ... Well...
Desistindo dos especialistas, o Jornal da Globo partiu para uma outra forma de cobertura. Primeiro fez um “pinga-fogo” com um representante Petista e o chiliquento e auto-intitulado lutador de Jiu-Jitsu, Artur Virgílio. Com aquelas caretas exageradas e branquelas ele gesticulava que a Dilma (Ministra da Casa Civil) deveria explicar o apagão, para ele e seus amiguinhos. Ignorou e andou para o argumento do adversário que inutilmente insistia que quem deveria vir explicar era o Ministro Lobão. A exemplo de Obama que não dá entrevista pra FOX, assumidamente Republicana, concordo com Paulo Henrique Amorim, pois, ninguém do governo deveria dar corda para esse povo da Globo. Debate com Artur Virgílio... fala sério, aí!
Seguindo o estilo Ali Kamel (Capo do Jornalismo Global), na sequência, eles fizeram contas dos prejuízos do apagão. Mostraram o padeiro, a vendedora, e as contas, 116 mi.
Depois foi interessante. Acho que eles perdem o controle do que as pessoas falam, às vezes. No link, com a repórter lá dos EUA, Cristiane Pelajo abriu aspas para citar o Ministro Lobão dizendo que lá nos States eles queriam fazer a interligação como é no Brasil, e sarcasticamente perguntou: e os americanos concordam com isso? Pois não é que eles queriam mesmo. Lá, sem o nosso poder de hidrelétricas, a distribuição é independente em grandes blocos. Obama pretende resolver o problema dos apagões lá que hoje é de 3 a cada 10 anos para 1 a cada 10 anos. Para isso, quer investir 6 bilhões de dólares pra criar uma rede computadorizada capaz de identificar e redistribuir a energia, ao identificar o problema automaticamente.
Ou seja, a resposta que a Globo queria: poderia ser evitado. Bastariam 6 Bilhões de Dólares, cerca de 50% a mais do previsto, para a construção da hidrelétrica de Belo Monte, prevista para entrar em operação em 2011, no rio Xingu, no Pará. Isso se tivéssemos aqui a mesma estrutura e suporte tecnológicos norte-americanos. Como não temos, o custo para “criar” essa tecnologia antiapagão, seria muito maior que os US$ 6 Bi. Talvez, quando tivermos o PIB dos EUA, evitaremos 3 apagões por década. Peralá... O último foi em 2001, e esse, sim, foi falta de investimento na era FHC.
Poupe-me, Globo e seus arautos de Serra 2010.
Se os desesperados insistirem em fazer comparações com FHC, concordo com Dilma, estamos pegando gosto por debater as comparações.
Tamanha é a palhaçada, que seria cômico, não fosse o poder massificante que a Globo sempre teve, desde a ditadura (aquela, dos militares). Temo a influência que essa papagaiada possa ter sobre os Homer Simpsons, a audiência do Jornal Nacional, segundo Willian Bonner. Se você se mantém informado somente pelas notícias do JN e não conhece o Homer, assista aos Simpsons, é bem divertido. Mas não se ofenda, foi o Bonner que disse.
Vejo o Brasil em um novo rumo, e o mundo em uma nova ordem. Se eles se consolidarem, essa imprensa sem vergonha não terá o mesmo espaço e poder. O problema é que ela se alimenta de nós. Ou não.
Para mais informações (técnicas), leia abaixo:


Apagões de 1999 e 2001 foram prenúncio de racionamento; para especialistas, não há crise de energia
11/11 - 13:48 - Rodrigo de Almeida, iG Rio
RIO DE JANEIRO - Dez anos separam o apagão da noite de terça-feira do traumático racionamento de energia, durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, apesar de racionamento e apagão serem completamente diferentes segundo os especialistas, o fantasma do racionamento voltou a ser lembrado. (Leia na íntegra)

Agora veja como a Folha (da ficha falsa de Dilma) e a Globo (do PNDH da censura) insistiram na palhaçada. Comparem os dois vídeo e vejam o show de edição.

27/03/2010 - 08:38
Apagão: como criar uma versão
Por daSilvaEdison

Então, para fechar a noite e começar o dia, vamos de apagão.
As folhas nos dão conta de que a ANEEL aplicou grossa multa em Furnas, penalidade ainda sujeita a recurso.
Na Folha vem assim:
Furnas é multada em R$ 54 milhões por apagão no país
No corpo da matéria:
“Inicialmente, o governo tentou sustentar a versão de que ninguém tinha culpa pelo blecaute, atribuindo o ocorrido inicialmente a um raio e, depois, a fortes chuvas que caíam na ocasião na região (divisa de Paraná com São Paulo). A falha no sistema de proteção, apontada pela fiscalização da agência reguladora, também havia sido descartada por várias autoridades do governo na área de energia.”
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u712374.shtml
Certamente a Folha não teve paciência para ouvir na época, e nem depois, a entrevista da Ministra Dilma:



Ou, quem sabe, a Folha tenha ficado com a versão deturpada divulgada pela Globo, em versão abalizada pelo Alexandre Garcia:



E é necessário reconhecer:
Compreender o palavreado da Ministra requer um pouco de boa vontade.
Mas quem pretende transmitir boa informação deveria se impor esse sacrifício.

Serra, o poeta da truculência

Bela foto, belo texto. A foto da Agência Estado, de Clayton Silva, é poética por si. E mais, simboliza a greve porque resume o discurso da APEOESP que deixou claro sua disposição para a negociação. Escolhi o texto de Leandro Fontes republicado no Conversa Afiada, pois em prosa sintetiza uma experiência quase hippie, lembrando a crença no poder das flores contras as armas. Lembra que Serra produz poesia de sua truculência. Para completar o quadro, acrescentei mais uma foto de dias anteriores, só pra contrastar a ironia, só para comparar símbolos.
Deixemos que as imagens falem.



O Conversa Afiada republica post de Leandro Fortes:


Blog de Leandro Fortes

26/03/2010

O mundo bizarro de José Serra
Quase todos perdidos de armas nas mãos

Muito ainda se falará dessa foto de Clayton de Souza, da Agência Estado, por tudo que ela significa e dignifica, apesar do imenso paradoxo que encerra. A insolvência moral da política paulista gerou esse instantâneo estupendo, repleto de um simbolismo extremamente caro à natureza humana, cheio de amor e dor. Este professor que carrega o PM ferido é um quadro da arte absurda em que se transformou um governo sustentado artificialmente pela mídia e por coronéis do capital. É um mural multifacetado de significados, tudo resumido numa imagem inesquecível eternizada por um fotojornalista num momento solitário de glória. Ao desprezar o movimento grevista dos professores, ao debochar dos movimentos sociais e autorizar sua polícia a descer o cacete no corpo docente, José Serra conseguiu produzir, ao mesmo tempo, uma obra prima fotográfica, uma elegia à solidariedade humana e uma peça de campanha para Dilma Rousseff.

Inesquecível, Serra, inesquecível.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Conversa Afiada: Serra desmonta os serviços públicos e sai candidato

Saiu no Conversa Afiada:


24/março/2010 9:11

Quem destrói a educação não pode ser Presidente

Quem paga os PSDB, os Piores Salários Do Brasil ?
O Zé Alagão, Zé Pedágio, Presidente eleito, que se lançou candidato no programa do Datena.
“Delegados iniciam greve com operação padrão”, diz o Agora, na página A5.
Os professores estão em greve.
Os funcionários da Saúde farão showmício para mostrar como se vive com um vale refeição de R$ 4, o “vale-coxinha”.
R$ 4 de vale refeição, amigo navegante.
E vão entrar em greve (Valor, página A14 )
O vale refeição mensal do professor de São Paulo, mensal, é de cinquenta reais.
Pode ?
É isso o que ele chama de “Estadativo”?
O Secretário da Administração tem uma reposta imperdível: “Preferimos investir em obras que poderão ser usadas por toda a sociedade.”
Claro, policial, professor e funcionário da saúde não tem serventia para a “sociedade” tucana de São Paulo.

Paulo Henrique Amorim

quarta-feira, 24 de março de 2010

Serra trata educação com mordaça e borracha


Do Viomundo

24 de março de 2010 às 20:23


Serra enfrenta greve dos professores com prisão e censura

24 de Março de 2010 – 19h00

do Vermelho

Em entrevista ao Vermelho, a presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Maria Isabel Azevedo Noronha, afirmou que o governador Serra “está chegando ao extremo do autoritarismo”, não quer negociar e “deixa os professores indignados”.
O governo de José Serra deu novas provas nesta quarta-feira (24) do jeito tucano de governar e se relacionar com os movimentos sociais. A Polícia Militar prendeu três professores da rede estadual de ensino que integravam um grupo de algumas dezenas de docentes que protestavam contra a administração tucana durante inauguração do Centro de Atenção à Saúde Mental, em Franco da Rocha (SP). Também usou cassetetes e gás de pimenta contra os manifestantes. Além disto, os tucanos determinaram silêncio e censura nas escolas sobre a paralisação.
O centro foi inaugurado pelo governador. Cerca de 40 soldados da PM e integrantes da Força Tática foram mobilizados para a repressão, de acordo com o comandante do 26º Batalhão da PM, José Carlos de Campos Júnior.

Repressão
A confusão começou quando os policiais tentaram impedir o protesto. Os professores resistiram e a polícia não pensou duas vezes: usou cassetetes e gás de pimenta para dispersar os manifestantes.
Enquanto o incidente se desenrolava, Serra discursava em palanque montado no Hospital Psiquiátrico do Juqueri, tradicional unidade clínica de Franco da Rocha. Ao final do discurso, o tucano fez comentários sobre as obras, mas não quis falar sobre a repressão. Os três manifestantes presos foram levados à delegacia de Franco da Rocha e a política pretende indiciá-los por desacato à autoridade e perturbação da ordem.

Intransigência
Maria Isabel, presidente da Apeoespe, explicou que o Sindicato está orientando os professores a realizarem manifestações durante eventos com a presença do governador para forçar a negociação.
A categoria está em greve desde o Dia Internacional da Mulher (8 de março) reivindicando um reajuste salarial de 34,3%, concurso público e outras medidas. Mas o governo não quer conversa e procura desqualificar o movimento, tachando-o de “político eleitoral” e sustentando que apenas 1% dos professores aderiu à paralisação, informação rechaçada pelos dirigentes da Apeoespe, que estimam em 55% o percentual de trabalhadores que decidiram cruzar os braços.
Desrespeito
Serra chegou a classificar a greve de “trololó”, dando a entender que a mobilização é irrelevante para o governo e a sociedade. “É um total desrespeito aos professores”, afirmou Isabel. “A categoria tem grandes responsabilidades sociais e não é devidamente retribuída”, sublinhou. Um professor ganha apenas 764 reais por 30 horas de aula, segundo ela.
“Estamos vendo o governador inaugurar obras e para isto não falta dinheiro, mas a educação, que é uma obra fundamental para a sociedade, tem sido tratada com desprezo”, ponderou. Os professores estão indignados e a adesão ao movimento é crescente. A Apeoesp pretende reunir 100 mil trabalhadores e trabalhadoras na próxima assembleia da categoria, convocada para a tarde de sexta-feira (26) diante do Palácio Bandeirantes.
Com o envolvimento das bases e o apoio da sociedade (especialmente de pais e alunos), a Apeoesp pretende sensibilizar os deputados estaduais e abrir canais para o diálogo e a negociação, segundo a presidente da entidade. Isabel destacou que as reivindicações não se limitam ao reajuste dos salários, “queremos rediscutir a avaliação por mérito, que deixa 80% da categoria sem nenhum reajuste e concurso público, entre outras medidas para melhorar a qualidade da educação em nosso Estado”.

Censura
O tucano José Serra também determinou a censura e o completo silêncio nas escolas sobre a greve. Pelo menos 77 escolas estaduais da zona leste de São Paulo foram orientadas a não dar informações para a imprensa sobre a greve dos professores, de acordo com informações publicadas pelo jornal “O Estado de São Paulo”.
A iniciativa partiu da Diretoria de Ensino da Região Leste 3, em comunicado enviado por e-mail aos diretores das escolas no início do mês. A região leste 3 compreende os distritos de Cidade Tiradentes, Guaianases, Iguatemi, José Bonifácio, Lajeado e São Rafael.
No texto, a diretoria afirma que, por causa da paralisação, que teve início no dia 8, “A imprensa está entrando em contato diretamente com as escolas solicitando dados e entrevista.” E pede: “Solicitamos ao diretor de escola para não atender a esta solicitação.” O comunicado ainda orienta como proceder em relação ao envio de informações sobre a greve para o governo, detalhando dias e turnos em que os professores estiveram ausentes.

Cortina de fumaça
Para a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo), a medida “fere a liberdade de expressão”. A palavra apropriada para a orientação é “censura”. O governador paulista pretende mascarar a realidade com a cortina de fumaça das informações manipuladas pela Secretaria de Educação, que insiste na afirmação de que apenas 1% dos professores participa da paralisação, “mais uma inverdade”, na opinião dos sindicalistas.
A intransigência do governador tucano lembra a conduta elitista e autoritária do governo FHC diante do movimento sindical. O primeiro mandato do tucano foi marcado pela repressão e desmantelamento das entidades sindicais dos petroleiros. O modo com que Serra trata os professores, que constituem uma das categorias mais injustiçadas e depreciadas em nosso país (daí a péssima qualidade da educação no Brasil), é um sinal do que seria um eventual retorno dos tucanos ao Palácio do Planalto.

Veja as principais reivindicações da categoria:
• Reajuste imediato de 34,3%
• Incorporação de todas as gratificações e extensão aos aposentados sem parcelamento
• Contra o provão das ACTs
• Contra o PLS 403 (Senado Federal)
• Pela revogação das leis 1093, 1041 e 1097
• Concurso público de caráter classificatório

Da redação, Umberto Martins, com informações do “Estadão”

Nota do Viomundo: Conversamos às 19h30 com a professora Mara Cristina de Almeida, diretora da Apeosp e coordenadora da subsede de Franco da Rocha. Ela nos informou que quatro professores foram presos. Todos passaram por exame de corpo de delito. Um quinto também foi submetido ao exame, pois ficou bastante machucado pelas agressões da PM.

domingo, 21 de março de 2010

O PIG em queda

Paulo Henrique Amorim mais uma vez demonstra a vertiginosa queda dos jornais golpistas e o real motivo. Veja a matéria do Conversa Afiada.



Valor faz o necrológio do PiG (*). Circulação cai. Folha(**) é o PiG (*) que mais cai

19/março/2010 9:25


A Folha (**) é a que mais cai. Pudera !



O Valor de hoje, na pág 4 do caderno “Eu &”, traz reportagem do sempre competente Matías Molina sobre a queda vertiginosa da circulação do PiG (*).
De 1996 a 2009, a Folha (**) caiu 43% (se o Otavinho não fosse filho do dono já tinha sido demitido).
O Globo, 36% (se os filhos do Roberto Marinho …).
O Estadão caiu 23%.
Não é à toa que os Mesquita tiveram que terceirizar o jornal e preservaram as páginas de “opinião” (e que opinião !).
É uma indústria de sucesso.
Que tem, hoje, como business plan, derrubar o presidente Lula e meter a mão na grana do Erário para se salvar (o Molina jamais diria isso, é claro).
O Molina aponta as causas da feroz decadência.
A situação econômica do país em 2009.
(No terceiro trimestre, a economia começou a bombar e hoje deve crescer à base de 4%, 5% ao ano … PHA)
Os próprios jornais cortaram a circulação para não gastar papel.
Sei o que é isso.
Trabalhei no Jornal do Brasil no tempo do Nascimento Brito e o sonho dele era ter uma circulação apenas suficiente para circular no Country Club – e economizar papel.
Outra causa, diz o Molina, é a clipagem.
O clipping eletrônico substituiu a assinatura.
Tem a ação dos agregadores, como Google e Yahoo (o Molina não citou o Conversa Afiada, que pena !).
E os próprios jornais que, segundo o Molina, cortaram os gastos com promoção de assinaturas e vendas.
Mas, o nosso dileto Molina se esqueceu da principal causa da acelerada decadência do PiG (*).
O PiG(*) não presta, Molina !
Você que é espanhol da gema e lê o El País.
Se você tivesse que ficar trancado numa ilha deserta e pudesse ler um único jornal: você escolheria a Folha(**), o Estadão, o Globo, Molina ?
Molina, você sabe !
O PiG (*) é um lixo.

Paulo Henrique Amorim

(*)Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista
(**) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que avacalha o Presidente Lula por causa de um comercial de TV; que publica artigo sórdido de ex-militante do PT; e que é o que é, porque o dono é o que é ; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

Serra: Movimento de docentes não significa nada

Para o (des) governador e seu partido, na verdade, a educação não significa nada, como demonstra a política dos últimos 16 anos e as contínuas quedas na qualidade da educação paulista. Como se educação fosse um processo que acontece em esteiras automáticas de fábricas, os meritocratas, sem política educacional que discuta a realidade, propõem prêmios, gratificações, e punições (só para professores, sem avaliar sua própria política), ao mesmo tempo em que não reduz a superlotação de salas de aula e sem reconstruir a proposta de ensino que ainda se baseia na população da década de 1950. Kassab segue o mestre.
Veja o descaso do candidato à Presidência e abaixo o e-mail que nos revela o que os soldados serristas da mídia escondem.


Professores em passeata na Paulista

Sob protestos de professores e de funcionários da área da Saúde, o governador de São Paulo, José Serra, voltou a minimizar neste sábado (20) a greve dos professores da rede estadual de ensino, durante visita a Ribeirão Preto, a 313 km de São Paulo. "Não tem greve, isso é um movimento que não significa nada", disse Serra, após cerimônia que marcou a inclusão do setor de reabilitação do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP) na rede Lucy Montoro. Leia a matéria no MPost.

Leia também, no Brasil Atual: Apeoesp quer 100 mil professores diante do Palácio dos Bandeirantes


 Abaixo o e-mail que circula entre os educadores de São Paulo.
 
A VERDADE SOBRE JOSÉ SERRA E A EDUCAÇÃO PAULISTA


Estamos em ano de eleição e, portanto, é hora de prestarmos atenção aos possíveis candidatos para que o nosso voto não seja motivo de mais mazelas sociais causadas por más administrações. Sabemos, no entanto, que manter-nos informados quanto ao que realmente acontece em nossa sociedade não é tarefa fácil, uma vez que boa parte da grande mídia está a serviço do capital e de partidos políticos – geralmente conservadores.
É por essa razão que, por meio desse e-mail, queremos informar a todos o que realmente acontece na educação paulista, uma vez que possivelmente o Sr. José Serra se candidatará ao cargo de presidente da República neste ano.
Acreditamos na Internet como um meio eficiente de fazer ouvir a nossa voz, quando o governo e a mídia, por conta dos seus interesses eleitoreiros, querem nos calar e difamar a todo custo.
Um exemplo dessa atitude criminosa da mídia golpista é a matéria que, recentemente, foi publicada no Estadão. Dentre outras insinuações, o jornal acusava os professores da rede estadual de entrar em greve como um pretexto para ficarem de “braços cruzados”, um jeito “sutil” de classificar a categoria como preguiçosa.
O jornal “esqueceu-se”, no entanto, de contar aos leitores os reais motivos da paralisação dos professores. Este e-mail, portanto, pretende impedir a manipulação asquerosa promovida por esse e por outros jornais de grande circulação, contando o que de fato acontece nos estabelecimentos de ensino do estado de São Paulo e que motivou a greve.

SEGREGAÇÃO DA CATEGORIA
O governo Serra dividiu os professores em categorias com letras sugestivas como O de otário, L de lixo, F de f*****, etc, como se fôssemos gado marcado a ferro quente nas costas com as iniciais do dono.
O intuito disso é muito simples: segregar a categoria, jogando professores uns contra os outros, numa clara tentativa de enfraquecer a categoria, facilitando a aplicabilidade dos desmandos do governo tucano.
A verdade, no entanto, é uma só. Somos todos professores, e temos – ou deveríamos ter pela lógica mais pueril – os mesmos direitos. Na prática, porém, não é o que acontece depois da invenção das malfadadas “letrinhas”. Cada categoria de professores é totalmente diferente da outra.

A DUZENTENA
Os professores da categoria O, por alguma razão ilógica que ainda estamos tentando compreender, após término de contrato terão que ficar 200 dias afastados das salas de aula. Isto significa que, se um professor está cobrindo uma licença de três meses, após esse período cessa o contrato e ele precisa ficar 200 dias em casa. As perguntas óbvias que surgem imediatamente são: Acaso deixaremos de precisar trabalhar durante 200 dias? Nossos filhos deixarão de comer durante 200 dias? Sob quais argumentos o governo aprovou uma lei tão absurda e sem sentido? O que parece é que a lei é um desestímulo a que os professores participem das atribuições de aula, e cubram licenças como professores eventuais, o que acontece muito. Isso porque um professor contratado exige que se recolha INSS, que se pague horas de HTPC, dentre outros benefícios que o eventual não tem.

MATERIAIS DE PÉSSIMA QUALIDADE
Há alguns anos o governo tucano de São Paulo vem enviando às escolas revistas com aulas já prontas – tirando toda a autonomia e liberdade do professor. Tais revistas são de péssima qualidade, apresentando erros grotescos, propondo exercícios patéticos que pouco ou nada contribuem para o avanço dos alunos. SARESP NÃO MOSTRA A REALIDADE DOS ALUNOS PAULISTAS
Os índices do IDESP – que somam índice de aprovação de alunos e desempenho na prova do SARESP – estão longe de revelar a realidade das salas de aula no estado de São Paulo. A verdade é que, com a progressão continuada, isto é, a obrigatoriedade de aprovar um aluno de um ano a outro, a menos que este exceda o número de faltas permitidas, é muito fácil manter um índice alto de aprovação de alunos, sem que isso signifique necessariamente que eles possuem as competências e habilidades que deveriam possuir. Ademais nos resultados do SARESP o que vemos são textos asquerosos que tentam intensificar avanços pequenos, e minimizar atrasos significativos. Ademais o governo tem o mau hábito de atribuir a suas políticas educacionais os méritos dos avanços dos alunos, e lançar apenas ao professor a responsabilidade pelos regressos.

SALAS LOTADAS
Há um grande número de alunos por sala de aula, o que dificulta o trabalho dos professores, fazendo com que o ensino não tenha a mesma qualidade que poderia ter caso o número de alunos fosse reduzido. Além disso, o governo prometeu que colocaria dois professores por sala na primeira série do Ensino Fundamental I, e isso não é o que temos visto. Ao contrário, o que vemos são PEBs I com 40 crianças de cinco e seis anos sem que haja o prometido professor auxiliar.

PROVÃO DOS ACTs
Está claro que o governo pretende com o provão dos ACTs passar a idéia ilusória de que os supostos “professores incompetentes” serão afastados das salas de aula, o que seria um avanço na educação, uma inovação desse governo. Isto porém não passa de mais uma medida para fazer com que o povo acredite que a educação está melhorando graças ao governo Serra. Também é um meio de jogar a responsabilidade pela falência da educação sobre as costas dos professores, classificando-os como incompetentes, para não assumir a parcela farta de culpa do governo tucano que sucateou o ensino.

AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO E VALE-TRANSPORTE
Quanto a essa parte não é preciso dizer muita coisa. Não é à toa que os colegas apelidaram o vale-refeição de “vale-coxinha”. Quem consegue receber o “benefício” sabe que ele é tão vergonhoso quanto o nosso salário.

PROPAGANDA ENGANOSA
O governador José Serra, com claros interesses eleitoreiros, tem veiculado propagandas na mídia que mostram uma realidade falseada da educação paulista. Nessas propagandas o salário dos professores é ótimo, a educação avança vertiginosamente, etc. Na prática qualquer professor sabe que isso não é verdade.

SALÁRIOS MISERÁVEIS
Freqüentemente somos acusados pela mídia golpista a serviço do PSDB de mercenários, simplesmente porque lutamos pór salários dignos. Parece que a imagem que se tem do professor é a mesma do “voluntariado”. Nós professores temos famílias para sustentar, temos contas a pagar, dedicamo-nos não somente dentro da escola, mas também em nossas casas, já que é no lar que nos atualizamos, corrigimos trabalhos, planejamos aulas.
O salário base de um professor hoje não chega a R$ 950,00, o que é muito pouco para um trabalho que exige de nós muito tempo. FALTA DE CONCURSOS PÚBLICOS PARA EFETIVAÇÃO
Vem do período da ditadura militar essa insistência em manter professores temporários na rede. Hoje esses professores são parte significativa de todo o efetivo da categoria. O número de temporários ultrapassa os 80.000 professores.
Isso gera algumas dificuldades na hora de aposentar-se, e não dá acesso a alguns benefícios que o efetivo tem.
É verdade que agora – em ano de eleição – o governo realizará um concurso público para efetivação de professores. No entanto o número de vagas é ridículo, pouco mais de 10.000. Precisamos de muito mais vagas para substituir todos os temporários da rede.

PROFESSORES NÃO FORMADOS ATUAM NA REDE
O governo, que vez ou outra coloca professores de “reforço”, como está acontecendo com os educadores da disciplina de matemática, e que quer demonstrar tanto rigor na contratação de professores com provas eliminatórias, na verdade permite que alunos de faculdade – ainda não formados – bacharéis e tecnólogos – que não passaram em sua graduação por disciplinas relacionadas à prática pedagógica, lecionem tranqüilamente na rede pública.
Preste muita atenção em quem você vai votar. A mídia e o governo estão tentando jogar a sociedade contra os professores, ao mesmo tempo que tentam abafar as reais dimensões da greve para que a imagem do “candidato das elites” não saia arranhada e atrapalhe suas pretensões políticas.

terça-feira, 16 de março de 2010

As ambulâncias de Serra que a Globo não deixou ir ao ar

Denúncias (do blog do Azenha - Vi o Mundo)

17 de fevereiro de 2009 às 23:04


O que eu pretendia dizer na TV sobre as ambulâncias de Serra

por Luiz Carlos Azenha

Tenho o costume de guardar os cadernos de anotação que uso durante as reportagens. Faço isso pelo gosto de, anos depois, relembrar episódios da carreira. Outro dia trombei com um caderno dos tempos da Globo de São Paulo. Mais especificamente, do período eleitoral de 2006.
Como vocês devem saber, naquele período vários profissionais da emissora chegaram a se reunir com o chefe local, um sujeito tosco e sonso, para reclamar da cobertura política. Era consenso entre esses profissionais, alguns dos quais continuam na emissora, que a Globo estava mobilizando recursos para investigar escândalos ligados ao governo Lula, enquanto suprimia informações que poderiam ser comprometedoras para o PSDB e, especificamente, José Serra.
Embora eu não tenha participado da reunião mencionada acima, coube a mim a tarefa de colocar em pé uma reportagem sobre o escândalo das ambulâncias. A Globo não pagou nem mesmo para que eu ou algum outro profissional fosse a Piracicaba para ouvir personagens ligados ao caso. A tarefa coube a uma produtora, que fez o trabalho por telefone. Levantamos as informações. A reportagem foi editada. E transmitida para o Rio de Janeiro. Os chefes paulistas aparentemente acreditavam que ela seria colocada no ar.
Foi parar na gaveta. Curiosamente, foi uma das raras ocasiões em que escrevi o texto em meu caderno de anotações, antes de registrá-lo no computador da redação.
No caderno, rascunhei o texto:
“O churrasco do fim-de-semana foi em comemoração aos 19 anos da Construtora Concivi. Só que o patrão Abel Pereira não apareceu na festa. Na casa dele, em Piracicaba, ninguém respondeu à campainha. Chamadas para o celular caem na caixa postal. Em outra construtora de Abel o funcionário diz que não sabe onde ele está.
Abel está desaparecido desde que seu nome foi citado por Luiz Antonio Vedoin, o dono da Planam. Vedoin disse que Abel era o encarregado de liberar recursos do orçamento para a compra de ambulâncias.
A Polícia Federal está examinando as anotações encontradas no dossiê preparado por Vedoin.
Nos papéis aparece a lista de prefeituras, o número das emendas dos parlamentares e o preço das ambulâncias.
Aparece também a anotação de 6,5% que segundo Vedoin era a propina paga a Abel Pereira depois que o dinheiro era liberado.
Segundo Vedoin, Abel garantia a liberação de recursos no Ministério da Saúde através do então secretário-executivo Barjas Negri.
Negri tornou-se ministro da Saúde quando José Serra se afastou para concorrer à presidência em 2002. Hoje é prefeito de Piracicaba, onde o empresário Abel Pereira tocou 35 obras públicas nos últimos dois anos. A Câmara Municipal da cidade queria investigar as concorrências vencidas pelo empresário, mas a proposta foi derrotada pelos vereadores que apóiam o prefeito Barjas Negri.
O empresário Abel e o atual prefeito de Piracicaba ainda não foram ouvidos pela Polícia Federal. Segundo a CPI das Sanguessugas a Planam forneceu 891 ambulâncias a municípios brasileiros. Setenta por cento delas foram entregues entre 2000 e 2002, período em que, segundo Vedoin, Abel Pereira atuava no Ministério da Saúde.”
Presumo que a informação crucial, que a Globo não topou transmitir ao público, estava na última frase: embora o escândalo tenha sido colocado inicialmente nas costas do governo Lula, 70% das ambulâncias superfaturadas foram entregues durante o período que a Globo eufemisticamente dizia ser o do “governo anterior”. Traduzindo, do PSDB, de Fernando Henrique Cardoso e de José Serra.

Serra, não adianta atacar

Apesar de Serra armar um exército para atacar blogs (veja o que diz Nassif), os blogs que denunciam o PIG não param de crescer como acontece com o Conversa Afiada de Paulo Henrique Amorim. Leia:

Audiência do Conversa Afiada só faz aumentar. Alô, alô, Dantas, Serra e Gilmar !


16/março/2010 18:33

Atenção, isso não é o IBOPE nem o Datafolha


O Conversa Afiada reproduz e-mail do amigo navegante Fernando:

Seu amigo Fernando informa:

PH,

Boa notícia!
Quando comecei a monitorar sua posição no Alexa, vc figurava entre os 2.500 sites mais acessados do país.
Isso faz menos de um ano.
Agora você está na posição 1.350 dos sites mais visitados.
http://www.alexa.com/siteinfo/paulohenriqueamorim.com.br#trafficstats
Conversa Afiada tem quase dez vezes mais a audiência da Veja, segundo o Alexa.
http://www.alexa.com/siteinfo/veja.com.br#trafficstats
Vale ressaltar que o Alexa não pertece nem ao Datafolha, nem ao Ibope.
É uma empresa do poderoso grupo Amazon e mede o ranking do web tráfego mundial.

Parabéns. Viva o Conversa !

Os soldados covardes de Serra

Não conheço nenhum psdbista, tirando os que concorrem a eleições. Não conheço nenhum tucano. Nunca sentei na mesa de um bar para discutir política e alguém disse ser uma dessas coisas. E olha que eu conheço muita gente que só votou em FHC, Alckmim e Serra. O cara vota em um partido só, mas não se diz militante, e sequer simpatizante. Ele não quer assumir qualquer responsabilidade se não der certo. Até porque até hoje a escolha desses caras não deu mesmo. É gente assim que monta e-mail falso, blog falso, nome falso. Vivem no anonimato. Seus nomes são mentiras, suas notícias, idem. Eles formam o exército de Serra. Como não tem o que elogiar de seus candidatos, passam o tempo mentindo sobre os outros. Escondidos. São seus soldados covardes. Como informou Nassif, agora eles estão se profissionalizando para atacar blogueiros e jornalistas que não temem mostrar a cara. Veja mais um deles atuando agora contra o Azenha.

Saiu no Azenha:

A truculência desinformada


por Luiz Carlos Azenha

Tem gente querendo ganhar notoriedade às custas do Viomundo. O objetivo é lançar denúncias vazias por aí, para ver se colam. Talvez seja parte da campanha difamatória a que se refere o Luís Nassif em post publicado hoje e que reproduzi aqui. Talvez seja dor-de-cotovelo.
Hoje um blogueiro do esgoto tentou levantar suspeição sobre o que seria “o programa do Azenha” na TV Brasil. Lamento informar, mas não tenho programa na TV Brasil. Não é novidade para ninguém que dirijo um programa que vai ao ar na TV Brasil. Fiz propaganda do lançamento do programa no site!
O programa é da Baboon Filmes, uma produtora independente de São Paulo que ganhou uma concorrência pública para fazer a revista Nova África. A concorrência foi pública, todos os documentos relativos a ela são públicos. Cuido tão somente da parte editorial do programa.
Sou contratado da Baboon, assim como sou contratado da TV Record e fui contratado de várias emissoras.
Sou qualificado para o cargo que exerço: tenho 30 anos de televisão e quase 40 de carreira. Minha remuneração na Baboon, aliás, está bem abaixo dos padrões do mercado para o cargo que exerço e a responsabilidade que tenho.
A ideia de que minha presença na equipe do programa poderia ter influenciado o resultado da concorrência muito me honra. Mas ela é simplesmente falsa. Assim como não tenho um programa meu na TV Brasil, assim como sou empregado da Baboon, registro que a nota que recebi da comissão avaliadora foi ZERO. Isso mesmo: tirei ZERO. Apesar de ter na época quase 30 anos de televisão, a nota que a Baboon recebeu pela minha presença na equipe foi ZERO. A empresa entregou documentação incompleta a meu respeito. Resultado: minha presença na equipe não contou.
Não se trata, portanto, de algum tipo de acordo secreto, que resulte em vantagens políticas ou monetárias obscuras: é meu trabalho, para o qual sou qualificado, como integrante de uma grande equipe.
O resultado está no ar todas as sextas-feiras às 10 da noite; as reprises acontecem às segundas, 8 da noite. Dezenas de professores já requisitaram cópias do programa para uso em sala-de-aula. O programa dá audiência bastante razoável para uma TV pública. Não tenho qualquer dúvida de que, a longo prazo, vamos ajudar a mudar a visão eurocêntrica que nós, brasileiros, temos da África.
A equipe do programa é formada por feras: desde a historiadora Conceição Oliveira à repórter Aline Midlej, passando pelos repórteres cinematográficos Henry Ajl, Markus Bruno e Padu Palmério; a produtora Tatiana Barbosa; montadores de cinema como o Markito e o Augusto; roteiristas como Aldo Quiroga, Márcia Cunha e Ângela Canguçu.
Não sei quantos votos os prepostos de José Serra esperam obter para seu candidato espalhando mentiras por aí. Com certeza já perderam algumas dezenas, com sua truculência desinformada.

O ataque de Serra aos blogs

Do site do Azenha sobre o artigo de Nassif quanto ao ataque de Serra aos blogs.

16 de março de 2010 às 19:37


Nassif: A guerra política sem quartel

por Luis Nassif, em seu blog

No dia 29 de dezembro passado recebi e-mail de um leitor, com informações sobre a guerra política a ser deflagrada este ano pela Internet.
Segurei as informações que me foram passadas, até ter uma ideia mais clara sobre os desdobramentos e conferir se as informações se confirmariam. Aparentemente estão se confirmando.
No final do ano passado, a FSB – empresa de assessoria de comunicações – foi incumbida pelo governador José Serra de preparar a guerra política na Internet, especificamente nas redes sociais. A empresa tem um contrato formal com a Sabesp e, aparentemente, outro com a Secretaria de Comunicação. Pensou-se em um terceiro contrato, com o Centro Paula Souza. Debaixo desses contratos, encomendou-se o trabalho.
Houve reunião em Brasília e a coordenação foi entregue ao jornalista Gustavo Krieger.
A primeira avaliação foi a de que a campanha anterior, pela Internet, tinha sido muito rancorosa e afastado o eleitorado. A nova estratégia consistiria em desviar os ataques para blogs críticos de Serra. Inicialmente, definiram-se quatro blogs: este, o do Paulo Henrique, o do Azenha e o da Maria Frô. Pessoas que tiveram acesso às informações da reunião não conheciam o da Maria Frô e estranharam sua inclusão. Mas quem incluiu conhecia.
Indaguei se, eventualmente, não poderia ser um monitoramento das análises, para se produzir argumentos contrários. Mas a fonte me garantiu que a ideia seria preparar ataques contra os quatro blogs através de um conjunto de blogueiros e twitteiros arregimentados na blogosfera: os «mercenários», como a fonte os definia.
O trabalho preliminar teria doze pessoas de escritórios de diferentes lugares do país. Durante o ano, a equipe seria enxugada, mas seriam mantidas cinco pessoas permanentemente dedicando-se à ofensiva contra esses blogs e outros que estavam em fase de avaliação. Haveria também a assessoria do ex-chefe de gabinete da Soninha – que está sendo processado por montar sites apócrifos injuriosos – e que se tornou o twitteiro de Serra.
Coloco a nota “em observação” porque, antes, busquei informações sobre Krieger e recebi avaliações positivas dele. Fica a ressalva.
Mas movimentações recentes em Twitters e Blogs indicam uma grande coincidência com o que me foi relatado. Especialmente o fato de parte relevante dos ataques contra os demais blogs estarem sendo produzidas justamente pelo assessor de Serra.
Lembro o seguinte: uma hora a guerra acaba. Passadas as eleições, os comandantes ensarilharão as armas e celebrarão a paz. Sobrará para os guerreiros contratados, que poderão ter sua imagem manchada indelevelmente. E, especialmente, para quem trabalha com comunicação corporativa.

PS: O Viomundo sente-se honradíssimo de figurar na lista dos blogs e sites a serem atacados.

domingo, 7 de março de 2010

O golpe do Millenium

Saiu no Carta Maior:
O Jornalista Gilberto Maringoni analisa os riscos de golpe quando a imprensa da classe dominante se alia como em 1964. O encontro público (a R$ 500,00 por cabeça) organizado pelo Instituto Millenium, demonstram uma matilha de raivosos, liderados por seus donos, nada dispostos a dar possibilidades a um governo que ponha em risco seu domínio em uma eventual democratização das comunicações.

O rosnar golpista do Instituto Millenium


Não é bom subestimar os pitbulls da imprensa brasileira. A direita não costuma se unir apenas para tomar chá com torradas. Só não articulam um golpe por sua legitimidade social ser reduzida.


Gilberto Maringoni


Vale a pena refletir mais um pouco sobre os significados e conseqüências do 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, realizado pelo Instituto Millenium em São Paulo, na segunda-feira, 1º. de março.
A grande questão é: por que os barões da mídia resolveram convocar um evento público para discutir suas idéias? Ta bom, vamos combinar. A R$ 500 por cabeça não é bem um evento público. Mas era aberto a quem se dispusesse a pagar.
No subsolo do luxuoso hotel Golden Tulip estavam o que se poderia chamar de agregados da Casa Grande dos monopólios da informação, como intelectuais de programa e jornalistas de vida fácil. Todos expuseram suas vísceras, em um strip-tease político e moral inigualável. Um espetáculo digno de nota. Nauseabundo, mas revelador.
Uma observação preliminar: os donos, os patrões, os proprietários enfim, tiveram um comportamento discreto e comedido ao microfone. Não xingaram e não partiram para a baixaria. Quem desempenhou esse papel foram os seus funcionários.
Nisso seguem de perto um ensinamento de Nelson Rockfeller (1908-1979), relatado em suas memórias. Quando resolveu disputar as eleições para governador de Nova York, em 1958, falou de seus planos à mãe, Abby Aldrich Rockefeller. Na lata, ela lhe perguntou: “Meu filho, isso não é coisa para nossos empregados”?
Os patrões deixaram o serviço sujo para os serviçais. Estes cumpriram o papel com entusiasmo.


Objetivos do convescote
Os propósitos do Fórum não são claros. Formalmente é a defesa da liberdade de expressão, sob o ponto de vista empresarial. Quem assistiu aos debates não deixou de ficar preocupado. Aos arranques, os pitbulls da grande mídia atacaram toda e qualquer tentativa de se jogar luz no comportamento dos meios de comunicação.
Talvez o maior significado do encontro esteja em sua própria realização. Não é todo dia que os donos da Folha, da Globo e da Abril se juntam, deixando de lado arestas concorrenciais, para pensarem em táticas comuns na cena política nacional.
Um alerta sobre articulações desse tipo foi feita por Cláudio Abramo (1923-1987), em seu livro “A regra do jogo”, publicado em 1988. A certa altura, ele relata uma conversa mantida com Darcy Ribeiro (1922-1997), no início de março de 1964. “Alertei-o de que dias antes, o dr. Julinho [Mesquita, dono de O Estado de S. Paulo] havia visitado Assis Chateubriand [dos Diários Associados], e que aquilo era sinal seguro de que o golpe estava na rua. Porque a burguesia é muito atilada nessas coisas, não tem os preconceitos pueris da esquerda. Na hora H ela se une”.
Pois no Instituto Millenium estavam unidos Roberto Civita [Abril], Otávio Frias Filho [Folha] e Roberto Irineu Marinho [Globo]. Sem mais nem porquê.
Não se pode dizer que a turma resolveu botar o golpe na rua. Mas é sintomática a realização do evento quase no mesmo dia em que a candidatura de Dilma Roussef empatou com a de José Serra, de acordo com o Datafolha. Ou que ele aconteça quando os partidos conservadores – PSDB e DEM – estejam às voltas com crises sérias.
O que isso quer dizer? Quer dizer que as representações institucionais da direita brasileira estão se esfarelando. Seu candidato não sabe se vai ou se não vai. Apesar de o governo Lula garantir altos ganhos ao capital financeiro, deixando intocada a política econômica neoliberal, este não é o governo dos sonhos da plutocracia pátria. Elas não suportam conviver com a ala popular, minoritária na gestão do ex-metalúrgico. Deploram a política externa, a não criminalização dos movimentos sociais e a possibilidade de um governo Dilma acatar indicações das várias conferências temáticas realizadas nos últimos anos, como a de Direitos Humanos e a de Comunicação (Confecom).


Incômodo com a Confecom
Falar nisso, há um nítido incômodo com os resultados da Confecom. A grande mídia não tolera que o tema da democratização das comunicações tenha entrado na agenda nacional.
A reação a tais movimentações sociais tem mudado substancialmente a imprensa brasileira. Para pior, vale sublinhar. Para perceber isso, vale a pena fazer uma brevíssima recuperação histórica.
Nos anos anteriores a 1964, a grande mídia – O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, Folha de S. Paulo e Diários Associados, entre outros – tornou-se propagandista e operadora do golpe militar. Colheu desgaste e sofreu censura, anos depois.
O primeiro órgão a notar que, para viabilizar seus propósitos empresariais, necessitava mudar de comportamento foi a Folha de S. Paulo. Com um jornal sem importância antes até o inícios dos anos 1970 e acusado de auxiliar o aparato repressivo da ditadura, seus proprietários perceberam que para mudar sua inserção no mercado valeria a pena abrir páginas para a oposição democrática.


Apostando na democratização
O projeto editorial de 1984 do jornal (http://www1.folha.uol.com.br/folha/conheca/projetos-1984-3.shtml) dizia o seguinte:
“A Folha é o meio de comunicação menos conservador de toda a grande imprensa brasileira. (...) É com certeza o que encontra maior repercussão entre os jovens. Foi o que primeiro compreendeu as possibilidades da abertura política e o que mais se beneficiou com ela, beneficiando a democratização. É o jornal pelo que a maioria dos intelectuais optou. É o mais discutido nas escolas de comunicação e nos debates sobre a imprensa brasileira”.
Ou seja, percebendo que a democratização lhe granjeava dividendos comerciais, o jornal deu espaço para lideranças, intelectuais e temas identificados com a mudança, em tempos finais da ditadura.


Topo da pirâmide
Vinte e três anos depois, em 11 de novembro de 2007, a Folha publicaria uma pesquisa sobre seu público, intitulada “Leitor da Folha está no topo da pirâmide social brasileira” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1111200715.htm). Logo na abertura, a matéria destaca:
“O leitor da Folha está no topo da pirâmide da população brasileira: 68% têm nível superior (no país, só 11% passaram pela universidade) e 90% pertencem às classes A e B (contra 18% dos brasileiros). A maioria é branca, católica, casada, tem filhos e um bicho de estimação”.
Saem de cena os “os intelectuais”, “os debates sobre imprensa brasileira” e entram os endinheirados. Do ponto de vista empresarial é isso mesmo. Jornal tem de vender e veicular anúncios a quem tem alta capacidade de consumo.
Mas para atender a essa lógica, movimentações editoriais são feitas. Ao invés de se priorizar um limitado pluralismo anterior, passam-se a criar cadernos e atrações voltados para os novos desígnios do público. E a linha editorial e os colunistas passam a ser cada vez mais conservadores.
A Folha beneficiou-se e soube utilizar em proveito próprio do formidável impulso democrático da sociedade brasileira dos anos 1980. Quase três décadas depois, percebe que a continuidade desse movimento não lhe interessa. E se insurge contra ele, com seus pares empresariais, entrando de cabeça nos fóruns do Instituto Millenium.


Golpe em marcha?
Articulações desse tipo são geralmente danosas à democracia. Sempre que ficam carentes de representações, as classes dominantes (chamemos as “elites” por seu nome real) entram no jogo institucional de forma truculenta e atabalhoada. Buscam impor sua vontade a ferro e fogo, uma vez que as regras do convívio político não lhes interessam mais. Seus impulsos são sempre pela ruptura dessas regras. Pelo golpe.
Foi o que aconteceu na Venezuela, em 2002. Com a falência dos partidos de direita e com a avassaladora legitimidade do governo Hugo Chávez, as oligarquias locais – em associação com a Casa Branca, com a cúpula das forças armadas e com a grande mídia – partiram para a ignorância. E se deram mal.
Não é pouca coisa a afirmação do ex-filósofo Roberto Romano, durante o Fórum do Instituto Millenium: “O aspecto ditatorial do Plano Nacional dos Direitos Humanos passaria em branco, não fosse o descontentamento manifestado pelos militares”. Logo quem o professor de Ética (!) invoca como paladinos da democracia...
A tática golpista vingará por aqui? Pouco provável, pois seus defensores encontram-se isolados. O destempero exibido por alguns palestrantes durante o evento – notadamente Romano, Jabor, Reinaldo Azevedo, Marcelo Madureira, Sidnei Basile, Denis Rosenfield e Demetrio Magnoli – é uma patente demonstração de seu reduzido apoio social.
No entanto, não se pode subestimar essa turma. Como interpretar a delirante intervenção de Arnaldo Jabor, ao dizer que “A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”? Como chegar a tal objetivo se não pela quebra da democracia?

Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).


quinta-feira, 4 de março de 2010

O terrorismo digital

Como montar uma farsa pela internet

Vários e-mails circulam de caixa em caixas de entrada com a única intenção de atacar Dilma. Um deles associa Dilma à morte de Mário Kozel Filho, um jovem soldado, morto em um ataque da guerrilha armada contra um quartel do exército em 1968. Antes, o alvo do terrorismo eleitoral era Lula, que teve de superar o medo da Regina Duarte construído por Serra em 2002, e pela grande mídia desde longa data, mas desmistificado após 3 eleições e um fracassado segundo mandato de FHC. Agora a estratégia novamente é apelar para a emoção mais primitiva do ser humano. As armas são falsos factóides criados por mídia inescrupulosa, (mal) desmentidos posteriores deixando um grau de dúvida no ar, e em seguida, a elaboração e propagação de e-mails e blogs com farsas, que não resistem a simples pesquisas feitas na própria internet. Pena que estas dão mais trabalho que espalhar e-mails criando terror.

Tire suas conclusões:

Veja como uma ficha falsa criada na internet e publicada de forma inescrupulosa pela Folha criou e fez crescer outro mito da internet: a acusação contra Dilma pela morte de Mário Kozel Filho.

Repare que antes da ficha falsa da Folha de São Paulo, atribuída a Dilma, a pesquisa no Google não gera qualquer relação ou associação entre Dilma e a morte do soldado.
1. Uma pesquisa simples no Google sobre "mário kozel filho" mostra de pronto, e em primeiro lugar o verbete na Wikipedia, contando sua história (ou melhor de sua morte), informando o nome e codinome dos participantes da ação. Dilma não é citada.
2. A mesma pesquisa, porém, especificando o período de 20 a 26 de junho de 2008, semana que antecede o aniversário de 40 anos de sua morte, retorna 425 resultados.
3. Se incluirmos na mesma pesquisa (no mesmo período) o termo "dilma" retornam 7 resultados. Não foi encontrado "Dilma" no texto sobre o soldado, em nenhuma das páginas visitadas, .

Os eventos da ficha falsa
4. No final de 2008, a ficha falsa do DOPS sobre Dilma já circulava e-mails e blogs.
5. Em 05/04/2009 a Folha publicou a ficha (do e-mail) como sendo verdadeira.
6. Dilma encomendou laudo produzido pelos professores do Instituto de Computação da Unicamp (Universidade de Campinas) Siome Klein Goldenstein e Anderson Rocha concluiu: "O objeto deste laudo foi digitalmente fabricado, assim como as demais imagens aqui consideradas. A foto foi recortada e colada de uma outra fonte, o texto foi posteriormente adicionado digitalmente e é improvável que qualquer objeto tenha sido escaneado no Arquivo Público de São Paulo antes das manipulações digitais".
7. O laudo produzido pelo perito Antonio Nuno de Castro Santa Rosa da Finatec (Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos), ligada à UnB (Universidade de Brasília), chega às mesmas conclusões.
8. Após receber os laudos, a Folha admite o erro, 20 dias depois, mas diz que vai contratar especialistas para verificar autenticidade, não do documento, que eles não tem, mas da imagem do e-mail recebido (a mesma periciada pela Unicamp e UnB). O documento simplesmente não existe.

O que aconteceu depois da ficha falsa da Folha
9. Uma nova pesquisa no Google sobre "mário kozel filho", selecionando-se o período de 20 a 26 de junho de 2009, exatamente um ano depois à semana dos 40 anos de sua morte , retorna 718 resultados, um crescimento de 70%, comparado ao mesmo período um ano antes. O crescimento parece normal na internet onde um termo neutro e aleatório como "porta" cresceu 66,5% ( de 4.570.000 para 7.610.000), comparados os mesmos períodos.
10. Mas algo acontece se incluirmos na nova pesquisa (na mesma semana de 2009) o termo "dilma", gerou a ocorrência de 73 resultados. Dilma relacionada ao soldado, sobe 943% em ocorrências. Naturalmente, há páginas em que os nomes de Dilma e do soldado morto são citados em artigos diferentes e independentes entre si, o que se explicaria por uma maior exposição da ministra no cenário eleitoral. Mas a pesquisa só com o termo Dilma cresceu somente 153%, de 281.000 para 711.000, nos períodos comparados.


E agora, com a subida de Dilma nas pesquisas
11. Pesquisada os termos "mário kozel filho" e "dilma", juntos e separados, nesta última semana (até 04/03/10) geram, respectivamente, 226 e 188 resultados. Ou seja, enquanto as menções ao soldado caem 69%, desde junho de 2009, as páginas relacionando os dois continuam subindo (158%). O curioso é que o termo Dilma na última semana, também comparado a junho, caiu para 701.000 (-1%).
12. Última curiosidade - qualquer pesquisa (sem especificar data) associando os dois nomes e partes do texto do e-mail geram dezenas de milhares de resultados. Os blogs alimentam os e-mails e estes alimentam os blogs com a farsa eleitoreira, na era do terrorismo digital.

A saída tem sido usar as mesmas armas. Mais blogs e e-mails para desmontar as pataquadas da imprensa e dos internautas mal intencionados, alertando os desavisados.

Veja outros exemplos de farsas e mau uso da internet:

Do que os paulistas riem...
As viagens de Lula e FHC
As farsas dos privatistas

quarta-feira, 3 de março de 2010

Serra, o metrô e a falência no transporte

Se Serra assumir sua candidatura em março, deverá iniciar sua campanha com a inauguração da Linha 4 do Metrô (totalmente privatizada), cujo escandaloso caso do buraco de Pinheiros matou 7, desabrigou dezenas e completou 3 anos sem punições e com as CPIs barradas pelo Governandor. Imunizado de ataques pela grande mídia (veja no Azenha como a mídia esconde a calamidade no transporte), Serra tentará projetar a imagem de um grande feito, ocultando que a maior cidade da América do Sul sofre com um dos mais caros, caóticos e ineficientes sistemas de transporte do continente. O Brasil de Fato apresenta um especial sobre o transporte paulistano com números que revelam atraso, desinteresse e incompetência da gestão tucana. E não dá para por a culpa em antecessor. Depois de 16 anos de governo nas mãos do PSDB, mesmo com a linha 4, serão construídos apenas 28 km além dos 63 existentes. Além de muito inferior, se comparado atualmente com Santiago (84 km) e Cidade do México (202 km), mesmo com a obra tucana totalmente entregue, São Paulo terá 120 mil habitantes por quilômetro de metrô construído, quase o dobro de Santigo do Chile (64 mil) e quase 3 vezes o da Cidade do México (43 mil).
Na velocidade tucana igualaremos o sistema mexicano em 2084. Mas hoje os R$ 2,65 que pagamos são superiores (em Reais convertidos) cerca de 70% sobre os chilenos, e, pasmem, 850% a mais que os mexicanos (9 vezes e meia os cerca de 28 centavos pagos lá). Abaixo veja alguns quadros comparativos do Brasil de Fato e leia mais na matéria original.




terça-feira, 2 de março de 2010

PIG assume campanha contra Dilma

saiu no Azenha:
Pela primeira vez na história desse país, a grande mídia, em desespero, decide assumir publicamente, o que sempre foi óbvio: que ela tem um candidato. Pagando R$ 500,00 por um pretenso Fórum de Democracia e Liberdade de Expressão, gente como Roberto Marinho, Roberto Civita e Arnaldo Jabor, declaram guerra à candidatura Dilma.


Bia Barbosa: Grande mídia organiza campanha contra candidatura de Dilma



Atualizado e Publicado em 02 de março de 2010 às 12:53


Em seminário promovido pelo Instituto Millenium em SP, representantes dos principais veículos de comunicação do país afirmaram que o PT é um partido contrário à liberdade de expressão e à democracia. Eles acreditam que se Dilma for eleita o stalinismo será implantado no Brasil. “Então tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução dos meios de comunicação. Temos que ser ofensivos e agressivos, não adianta reclamar depois”, sentenciou Arnaldo Jabor.


por Bia Barbosa, em Carta Maior


Se algum estudante ou profissional de comunicação desavisado pagou os R$ 500,00 que custavam a inscrição do 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto Millenium, acreditando que os debates no evento girariam em torno das reais ameaças a esses direitos fundamentais, pode ter se surpreendido com a verdadeira aula sobre como organizar uma campanha política que foi dada pelos representantes dos grandes veículos de comunicação nesta segunda-feira, em São Paulo.


Promovido por um instituto defensor de valores como a economia de mercado e o direito à propriedade, e que tem entre seus conselheiros nomes como João Roberto Marinho, Roberto Civita, Eurípedes Alcântara e Pedro Bial, o fórum contou com o apoio de entidades como a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), ANER (Associação Nacional de Editores de Revista), ANJ (Associação Nacional de Jornais) e Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade). E dedicou boa parte das suas discussões ao que os palestrantes consideram um risco para a democracia brasileira: a eleição de Dilma Rousseff.


A explicação foi inicialmente dada pelo sociólogo Demétrio Magnoli, que passou os últimos anos combatendo, nos noticiários e páginas dos grandes veículos, políticas de ação afirmativa como as cotas para negros nas universidades. Segundo ele, no início de sua história, o PT abrangia em sua composição uma diversidade maior de correntes, incluindo a presença de lideranças social-democratas. Hoje, para Magnoli, o partido é um aparato controlado por sindicalistas e castristas, que têm respondido a suas bases pela retomada e restauração de um programa político reminiscente dos antigos partidos comunistas.


“Ao longo das quatro candidaturas de Lula, o PT realizou uma mudança muito importante em relação à economia. Mas ao mesmo tempo em que o governo adota um programa econômico ortodoxo e princípios da economia de mercado, o PT dá marcha ré em todos os assuntos que se referem à democracia. Como contraponto à adesão à economia de mercado, retoma as antigas idéias de partido dirigente e de democracia burguesa, cruciais num ideário anti-democrático, e consolida um aparato partidário muito forte que reduz brutalmente a diversidade política no PT. E este movimento é reforçado hoje pelo cenário de emergência do chavismo e pela aliança entre Venezuela e Cuba”, acredita. “O PT se tornou o maior partido do Brasil como fruto da democracia, mas é ambivalente em relação a esta democracia. Ele celebra a Venezuela de Chávez, aplaude o regime castrista em seus documentos oficiais e congressos, e solta uma nota oficial em apoio ao fechamento da RCTV”, diz.


A RCTV é a emissora de TV venezuelana que não teve sua concessão em canal aberto renovada por descumprir as leis do país e articular o golpe de 2000 contra o presidente Hugo Chávez, cujo presidente foi convidado de honra do evento do Instituto Millenium. Hoje, a RCTV opera apenas no cabo e segue enfrentando o governo por se recusar a cumprir a legislação nacional. Por esta atitude, Marcel Granier é considerado pelos organizadores do Fórum um símbolo mundial da luta pela liberdade de expressão – um direito a que, acreditam, o PT também é contra.


“O PT é um partido contra a liberdade de expressão. Não há dúvidas em relação a isso. Mas no Brasil vivemos um debate democrático e o PT, por intermédio do cerceamento da liberdade de imprensa, propõe subverter a democracia pelos processos democráticos”, declarou o filósofo Denis Rosenfield. “A idéia de controle social da mídia é oficial nos programas do PT. O partido poderia ter se tornado social-democrata, mas decidiu que seu caminho seria de restauração stalinista. E não por acaso o centro desta restauração stalinista é o ataque verbal à liberdade de imprensa e expressão”, completou Magnoli.


O tal ataque


Para os pensadores da mídia de direita, o cerco à liberdade de expressão não é novidade no Brasil. E tal cerceamento não nasce da brutal concentração da propriedade dos meios de comunicação característica do Brasil, mas vem se manifestando há anos em iniciativas do governo Lula, em projetos com o da Ancinav, que pretendia criar uma agência de regulação do setor audiovisual, considerado “autoritário, burocratizante, concentracionista e estatizante” pelos palestrantes do Fórum, e do Conselho Federal de Jornalistas, que tinha como prerrogativa fiscalizar o exercício da profissão no país.


“Se o CFJ tivesse vingado, o governo deteria o controle absoluto de uma atividade cuja liberdade está garantida na Constituição Federal. O veneno antidemocrático era forte demais. Mas o governo não desiste. Tanto que em novembro, o Diretório Nacional do PT aprovou propostas para a Conferência Nacional de Comunicação defendendo mecanismos de controle público e sanções à imprensa”, avalia o articulista do Estadão e conhecido membro da Opus Dei, Carlos Alberto Di Franco.


“Tínhamos um partido que passou 20 anos fazendo guerra de valores, sabotando tentativas, atrapalhadas ou não, de estabilização, e que chegou em 2002 com chances de vencer as eleições. E todos os setores acreditaram que eles não queriam fazer o socialismo. Eles nos ofereceram estabilidade e por isso aceitamos tudo”, lamenta Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, que faz questão de assumir que Fernando Henrique Cardoso está à sua esquerda e para quem o DEM não defende os verdadeiros valores de direita. “A guerra da democracia do lado de cá esta sendo perdida”, disse, num momento de desespero.


O deputado petista Antonio Palocci, convidado do evento, até tentou tranqüilizar os participantes, dizendo que não vê no horizonte nenhum risco à liberdade de expressão no Brasil e que o Presidente Lula respeita e defende a liberdade de imprensa. O ministro Hélio Costa, velho amigo e conhecido dos donos da mídia, também. “Durante os procedimentos que levaram à Conferência de Comunicação, o governo foi unânime ao dizer que em hipótese alguma aceitaria uma discussão sobre o controle social da mídia. Isso não será permitido discutir, do ponto de vista governamental, porque consideramos absolutamente intocável”, garantiu.


Mas não adiantou. Nesta análise criteriosa sobre o Partido dos Trabalhadores, houve quem teorizasse até sobre os malefícios da militância partidária. Roberto Romano, convidado para falar em uma mesa sobre Estado Democrático de Direito, foi categórico ao atacar a prática política e apresentar elementos para a teoria da conspiração que ali se construía, defendendo a necessidade de surgimento de um partido de direita no país para quebrar o monopólio progressivo da esquerda.


“O partido de militantes é um partido de corrosão de caráter. Você não tem mais, por exemplo, juiz ou jornalista; tem um militante que responde ao seu dirigente partidário (...) Há uma cultura da militância por baixo, que faz com que essas pessoas militem nos órgãos públicos. E a escolha do militante vai até a morte. (...) Você tem grupos políticos nas redações que se dão ao direito de fazer censura. Não é por acaso que o PT tem uma massa de pessoas que considera toda a imprensa burguesa como criminosa e mentirosa”, explica.


O “risco Dilma”


Convictos da imposição pelo presente governo de uma visão de mundo hegemônica e de um único conjunto de valores, que estaria lentamente sedimentando-se no país pelas ações do Presidente Lula, os debatedores do Fórum Democracia e Liberdade de Expressão apresentaram aos cerca de 180 presentes e aos internautas que acompanharam o evento pela rede mundial de computadores os riscos de uma eventual eleição de Dilma Rousseff. A análise é simples: ao contrário de Lula, que possui uma “autonomia bonapartista” em relação ao PT, a sustentação de Dilma depende fundamentalmente do Partido dos Trabalhadores. E isso, por si só, já representa um perigo para a democracia e a liberdade de expressão no Brasil.


“O que está na cabeça de quem pode assumir em definitivo o poder no país é um patrimonialismo de Estado. Lula, com seu temperamento conciliador, teve o mérito real de manter os bolcheviques e jacobinos fora do poder. Mas conheço a cabeça de comunistas, fui do PC, e isso não muda, é feito pedra. O perigo é que a cabeça deste novo patrimonialismo de estado acha que a sociedade não merece confiança. Se sentem realmente superiores a nós, donos de uma linha justa, com direito de dominar e corrigir a sociedade segundo seus direitos ideológicos”, afirma o cineasta e comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor. “Minha preocupação é que se o próximo governo for da Dilma, será uma infiltração infinitas de formigas neste país. Quem vai mandar no país é o Zé Dirceu e o Vaccarezza. A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”, alerta Jabor.


Para Denis Rosenfield, ao contrário de Lula, que ganhou as eleições fazendo um movimento para o centro do espectro político, Dilma e o PT radicalizaram o discurso por intermédio do debate de idéias em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos 3, lançado pelo governo no final do ano passado. “Observamos no Brasil tendências cada vez maiores de cerceamento da liberdade de expressão. Além do CFJ e da Ancinav, tem a Conferência Nacional de Comunicação, o PNDH-3 e a Conferência de Cultura. Então o projeto é claro. Só não vê coerência quem não quer”, afirma. “Se muitas das intenções do PT não foram realizadas não foi por ausência de vontades, mas por ausência de condições, sobretudo porque a mídia é atuante”, admite.


Hora de reagir


E foi essa atuação consistente que o Instituto Millenium cobrou da imprensa brasileira. Sair da abstração literária e partir para o ataque.


“Se o Serra ganhasse, faríamos uma festa em termos das liberdades. Seria ruim para os fumantes, mas mudaria muito em relação à liberdade de expressão. Mas a perspectiva é que a Dilma vença”, alertou Demétrio Magnoli.


“Então o perigo maior que nos ronda é ficar abstratos enquanto os outros são objetivos e obstinados, furando nossa resistência. A classe, o grupo e as pessoas ligadas à imprensa têm que ter uma atitude ofensiva e não defensiva. Temos que combater os indícios, que estão todos aí. O mundo hoje é de muita liberdade de expressão, inclusive tecnológica, e isso provoca revolta nos velhos esquerdistas. Por isso tem que haver um trabalho a priori contra isso, uma atitude de precaução. Senão isso se esvai. Nossa atitude tem que ser agressiva”, disse Jabor, convocando os presentes para a guerra ideológica.


“Na hora em que a imprensa decidir e passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo, e que não se vai dar trela para quem quer a solapar, começaremos a mudar uma certa cultura”, prevê Reinaldo Azevedo.


Um último conselho foi dado aos veículos de imprensa: assumam publicamente a candidatura que vão apoiar. Espera-se que ao menos esta recomendação seja seguida, para que a posição da grande mídia não seja conhecida apenas por aqueles que puderam pagar R$ 500,00 pela oficina de campanha eleitoral dada nesta segunda-feira.


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