domingo, 28 de fevereiro de 2010

Possebon: Retomar a Telebrás ajudaria a disciplinar o mercado

Saiu no Azenha entrevista com o consultor na área das telecomunicações, o jornalista Samuel Possebon, opinando sobre o acerto do governo em propor o fortalecimento da Telebrás e a regulação do setor cujos preços não permite o acesso das camadas mais populares aos serviços de comunicação.

Leia mais sobre o tema privatizações no texto "As farsas dos privatistas" - uma comparação entre os governos FHC e Lula no tratamento de empresas importantes como Petrobrás e a Vale.


Atualizado e Publicado em 28 de fevereiro de 2010 às 11:58




por Valéria Nader e Gabriel Brito*, em Correio da Cidadania    
Desde o início do ano, vêm surgindo informações dando conta de que o governo federal teria intenções de reativar a Telebrás, de modo a tê-la como seu carro-chefe no anunciado Plano Nacional de Banda Larga, que visa atingir cerca de 70% das residências brasileiras. O anúncio do PBNL já fez ventilar hipóteses de que o processo também incluiria uma espécie de retomada estatal no setor, totalmente privatizado na era FHC.



Para tratar do assunto, o Correio da Cidadania conversou com o jornalista Samuel Possebon, que já concedeu diversas consultorias na área das telecomunicações. Para ele, o governo acerta ao tentar voltar a ter alguma rédea no setor, o que, ainda que não signifique uma real reestatização – o novo alvo de estridente combate por parte de nossa mídia, diante de um suposto viés neoestatizante do governo Lula -, poderia disciplinar o mercado. Como se sabe, o Brasil ocupa as primeiríssimas posições em tarifas telefônicas, fixa e móvel, de modo nada condizente com a média de renda de seu cidadão.


No entanto, o também professor do Departamento de Comunicação da UNB descarta a possibilidade de retomada estatal no setor, pois vê os atores privados e a cultura de concorrência aberta em posições já afirmadas. Possebon reconhece as melhorias tecnológicas oferecidas pelo mercado, mas ressalta ser importante uma maior acessibilidade da população e uma redução nos custos ao consumidor.


Correio da Cidadania: Como vem encarando as discussões acerca das Telecomunicações no Brasil nos últimos meses, especialmente em função da polêmica sobre a expansão da banda larga, que o governo parece querer encampar como um projeto estatal através da Telebrás e aquisição das linhas da Eletronet (antiga empresa estatal, atualmente em estado falimentar, detentora de uma rede de cabos de fibra ótica)?


Samuel Possebon: O governo tenta através do Plano Nacional de Banda Larga e a retomada da Telebrás equilibrar um pouco o setor, oferecendo novas opções para o acesso à banda larga. Porém, ainda não são muito claras as diretrizes desse plano e qual seria o grau de protagonismo do governo. Portanto, fica um pouco difícil saber qual será o sucesso da empreitada e se atingirá seus objetivos declarados.


De toda forma, creio ser uma idéia correta, pois coloca em cena um novo ator no setor, na figura do próprio Estado, e que vai no sentido de abrir o leque de concorrência, fazer preços baixarem e o acesso da população à banda larga aumentar. Mesmo assim, é cedo para vislumbrar qual alcance e efetividade terá o plano.


CC: A propósito, o que é hoje a Telebrás, uma vez que, ao contrário do ocorrido no setor elétrico (cuja privatização veio de forma mais segmentada), sabemos que as Telecomunicações foram privatizadas em bloco no governo FHC, e a estatal foi praticamente extinta?


SP: O que aconteceu é que, no processo de privatização do setor, em 97 e 98, vários funcionários que seriam incorporados à Anatel não podiam ser demitidos ou aposentados de uma vez, sendo incorporados também pelas empresas que entraram no setor. Isso fez com que a empresa praticamente fechasse, com seus quadros passando para a agência reguladora ou outras empresas que passaram a atuar nas telecomunicações. Como no setor elétrico o processo foi mais diluído, não houve a mesma necessidade.


CC: As ações da Telebrás tiveram valorização expressiva nos últimos anos, e também nos últimos dias, em função das notícias sobre os projetos do governo. O que pensa dessa valorização?


SP: Isso foi um movimento natural de mercado, que sempre ocorre no campo da especulação. Aconteceu a mesma coisa, por exemplo, quando começaram os boatos de venda da Sadia. A empresa estava falida, mas, com as notícias que circulavam, seus papéis na bolsa se valorizavam e as ações subiam do mesmo jeito.


O mesmo ocorreu na compra do Unibanco pelo Itaú. É um movimento natural que sempre acontece no mercado especulativo, e agora não foi diferente.


CC: Acredita estar em curso um projeto ou uma ‘séria’ tentativa de retomar de alguma forma o controle do setor de telecomunicações, dando mais corpo e nova vida à Telebrás? Enxerga relação com a própria questão da soberania nacional?


SP: Não. Acredito que o governo queira apenas dar um pouco mais de regulação ao setor, de maneira a também expandi-lo e criar um maior alcance nacional.


Mas não se trata de uma retomada estatal no setor. Ele pretende somente colocar uma nova opção no mercado, de modo que se abra um pouco mais o leque de concorrência e as demais empresas sejam obrigadas a baixar seus preços e também melhorar a qualidade dos serviços, ainda muito deficientes, apesar de todos os avanços tecnológicos.


Não vejo intenções governamentais no sentido de alguma reestatização, não é essa a idéia do plano. O que buscam é melhorar a competitividade e controlar mais o mercado.


CC: Como você enxerga hoje esse setor no Brasil? Caminhamos, conforme se aventa, melhor do que teria sido sem a privatização?


SP: É difícil falar em hipóteses, sobre o que seria sem a privatização. São inegáveis os avanços que as empresas privadas ofereceram, no que se refere à tecnologia e qualidade de alguns serviços, que não existiam antes, apesar do preço e da impossibilidade de acesso de grandes parcelas dos brasileiros.


Por outro lado, é certo que hoje as condições econômicas do país também são bem diferentes, o que permitiria que o serviço por parte do governo também se encontrasse em outro nível.


CC: O que pensa do fato de sermos o país com uma das mais altas tarifas de celular e telefonia fixa do mundo, ao lado de possuir um serviço de internet também caríssimo e ainda muito restrito?


SP: Esse é um ponto a se discutir bastante. É verdade que precisa ser dado um desconto por conta da altíssima carga tributária deste país, principalmente em serviços, de modo que o consumidor acaba sendo bastante afetado, pois as empresas acabam incluindo essa carga no preço final.


Mas também é preciso uma melhoria em tal ponto, pois, apesar de todos os avanços tecnológicos oferecidos, as tarifas são realmente muito elevadas, além de sabermos que há um altíssimo número de reclamações das pessoas com relação às empresas que prestam tais serviços. É também por isso que o governo entrou na questão, para rearranjar os níveis de preços e aumentar a acessibilidade a tais serviços, ainda muito distantes de grande parte da população.


CC: Você apoiaria algum tipo de reestatização no setor?


SP: No momento é difícil falar em reestatização, pois todo um modelo já está afirmado na sociedade e é complicado tocar nos atuais parâmetros de mercado.


Acho importante e não vejo nada de errado em uma maior atuação estatal no setor, até para regular e controlar melhor os preços de telefonia fixa e móvel, além de internet.


Não vejo nada de errado em contar com a participação simultânea do Estado e dos atores privados, desde que nas mesmas condições e regras de mercado, sem que um seja claramente favorecido em relação ao outro no que se refere às condições de oferecer os serviços de telecomunicações. Se for assim, pode ser positivo para o país e os consumidores um modelo que inclua os dois lados.


CC: Como encara a fusão Oi/BrTelecom? Há estudiosos que nela enxergam pontos positivos, na medida em que seria uma forma de o setor retomar corpo em sua atuação, único modo de chegar aos grotões. Mas não se caminha ao mesmo tempo em direção contrária à concorrência tão reverenciada na justificativa do desmembramento e privatização no setor?


SP: Foi uma fusão bem complicada. Sabemos que o governo alegava se tratar de uma questão importante para que o país tivesse um ator competitivo globalmente, podendo disputar espaços de mercado fora do país também.


No entanto, esses resultados estão bem abaixo do esperado, inclusive internamente, e até hoje ainda não se viu uma grande evolução dentro daquilo que foi prometido para justificar a fusão das empresas.


Além do mais, o processo não foi conduzido da melhor maneira, mas agora Inês é morta e é preciso dar continuidade ao crescimento do país no setor e também a essa questão da oferta de serviços de telecomunicações às localidades tidas como menos interessantes pelo mercado.


*Gabriel Brito é jornalista; Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania.





Rodrigo Vianna: Há uma avenida aberta para que Dilma siga a crescer



Saiu no Azenha a análise de Rodrigo Viana sobre a última pesquisa do DataFolha que indica o empate técnico de Dilma com Serra e sua ultrapassagem na votação espontânea. Veja também a reflexão sobre a pesquisa do IBOPE que postei em Pesquisa ou propaganda gratuita? 


Atualizado em 28 de fevereiro de 2010 às 13:52
Publicado em 28 de fevereiro de 2010 às 13:35
publicada em domingo, 28/02/2010 às 00:18 e atualizado em domingo, 28/02/2010 às 00:34

As placas se movem: Dilma já empata com Serra
por Rodrigo Vianna, em Escrevinhador


O Mundo e a América Latina, em especial, se entristecem com as notícias sobre mais um terremoto arrasador - dessa vez no Chile.
Passei o sábado numa reunião, para criar uma associação de empresários e empreendedores de comunicação de linha progressista. Dentro da sala, num hotel paulistano, vez por outra aparecia alguém com mais notícias tristes sobre o terremoto. Tecnicamente, já sabemos o que se passou: placas tectônicas se chocaram, bem perto da costa chilena, o que pode provocar também tsunamis em todo o Pacífico.
No fim da tarde, outras placas se moveram - mas dessa vez na política brasileira. Na sala onde eu estava, chegaram os números da nova pesquisa DataFolha: Dilma colou em Serra.

A "FolhaOnline", até tarde da noite, ainda escondia os detalhes da pesquisa. A idéia é forçar o povo a comprar o jornal. Ok. Gastei meus 4 reais. E tenho aqui o diário impresso.
Os números são avassaladores.
No cenário mais provável, a situação é a seguinte: Serra 32% (contra 37% em dezembro), Dilma 28% (23% em dezembro), Ciro 12% (13% em dezembro) e Marina 8% (tinha os mesmos 8% em dezembro).

A manchete do jornal destaca esse quadro: "Dilma cresce e já encosta em Serra".

Ok. Está correto.
Mas, quando digo que os números são avassaladores, refiro-me a outras variáveis. Vejamos...
1) Rejeição - Serra é agora o mais rejeitado: 25% não votariam nele de jeito nenhum, contra 19% em dezembro.
2) Voto espontâneo - Dilma está em primeiro lugar, com 10%; com os mesmos 10% aparece... Lula! Serra é apenas o terceiro, com 7%; em quarto aparece o "candidato de Lula", com 4%, em quinto está Aécio, com 1%.
Reparem que a soma de Lula/Dilma/"candidato de Lula" alcança 24%, contra 8% de Serra/Aécio.
3) Transferência de Voto - 42% dizem que votariam num candidato apoiado por Lula; 26% dizem que "talvez" votariam em quem Lula indicar; e só 22% afirmam que "não" votariam no candidato de Lula.
4) Conhecimento do candidato - Serra é conhecido por 96%, Dilma é conhecida por 86%.
Resumo da ópera: há uma avenida aberta para que Dilma siga a crescer.
À medida que ela se torne mais conhecida, a tendência é que a intenção de voto em Dilma se aproxime dos 42% - que é o total de eleitores inclinados a escolher um candidato indicado por Lula.

A "Folha" escolheu não brigar com os números. Com uma exceção: o jornal diz que "é impreciso dizer que o levantamento indica um empate estatístico". Êpa. Aí, não. Estamos, sim, diante de um "empate técnico", no limite da margem de erro.
Mas isso é detalhe. O que importa é a tendência, anotada também na simulação de segundo turno: a diferença entre Serra e Dilma desapareceu: Serra tem 45%, Dilma tem 41%. Em dezembro, a vantagem de Serra era de 15 pontos. Agora, evaporou.
Diante disso, a colunista Eliane Cantanhêde parece desesperada. Na página 2 do jornal, ela escreve o texto "Ou vai ou Racha", com destaque para a seguinte pérola: "a eleição atingiu o ponto ideal para a definição de Aécio Neves: sempre se soube, mas nunca tinha ficado tão evidente o quanto sua candidatura a vice é fundamental para a oposição".
"Ponto ideal" pra quem, cara pálida? Cantanhêde quer empurrar Aécio pro fogo. Quer que ele perca agarrado a Serra.
Vamos raciocinar friamente. Se Aécio aceitar ser vice, e Serra perder (o que parece provável, dado que a soma dos votos espontâneos nos dois fica em um terço do total de votos espontâneos para Dilma+Lula+candidato do PT), o mineiro perde junto. Se Aécio aceitar a vice, e Serra ganhar, Aécio vira sócio minoritário da vitória.
Os jornalistas serristas, depois de espalhar por aí que Aécio bate na namorada e tem hábitos pouco ortodoxos, agora querem a ajuda do mineiro para salvar Serra.
Quer continuar lendo a análise do Rodrigo Vianna?Clique aqui.

Gráfico das pesquisas:

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Vídeo sensacional: por que se livrar do PiG(*)

Saiu no Conversa Afiada:

22/fevereiro/2010 15:36

Retrato da concentração dos meios de comunicação existente no Brasil

O Conversa Afiada reproduz a sugestão do amigo navegante IRR:

Enviado em 22/02/2010 às 13:58

Em tempo, um vídeo curtinho e de uma mensagem muito forte.

Fala para pq a mídia é o que é (uma oligarquia) e não o que os desavisados pensam que elas são. E sobre o direito a comunicação e liberdade.

Intervozes – Levante sua voz

http://vimeo.com/7459748

É um vídeo muito bom, vale a pena você colocar aqui para seus leitores. Fala inclusive das principais famílias, políticos que tem o direito a de*formar opiniões no Brasil.

Intervozes – Levante sua voz from Pedro Ekman on Vimeo.

Lula - melhor desempenho das bolsas na história

Dinheiro na semana
Economia


Os presidentes e a bolsa

Quando foi eleito pela primeira vez, em 2002, o presidente Lula causou temor no mercado financeiro. A incerteza em torno do novo governo tirou o sono de grandes investidores e fez com que o preço dos papéis despencasse. Passados sete anos, Lula não só manteve a economia estável como se tornou o governante com melhor desempenho acionário da história. Já Fernando Henrique Cardoso, apontado como "pai do real", teve uma performance bem mais modesta. Confira a variação do mercado na Bovespa durante o mandato dos presidentes da República.

Valor da Petrobras cresce 1250% no governo Lula

Valor de mercado da Petrobras cresce 1250% no governo Lula
10/11 - 14:13 - Redação iG




SÃO PAULO - O valor de mercado da Petrobras teve crescimento de nada menos que 1250% durante o governo Lula. Segundo levantamento da consultoria Economatica, o valor da estatal saltou de US$ 15,4 bilhões em 2002 para US$ 207,9 bilhões até o fechamento do último dia 9 de novembro.


Ações brasileiras mais negociadas na Bolsa de Nova York superam patamar pré-crise


Com o crescimento, a estatal subiu da 118ª colocação para o terceiro lugar entre as maiores companhias das Américas. No período estudado, a Petrobras conseguiu ficar na segunda colocação entre as americanas em sete oportunidades.

“Nos dia 21 e 22 de maio de 2008, a Petrobras atingiu o maior valor de mercado histórico com US$ 309,5 bilhões, o que a colocou na segunda colocação atrás somente da Exxon”, informou a consultoria.

Vale

Já a mineradora Vale do Rio Doce teve crescimento de 1190% no valor de mercado desde 2002, segundo a Economatica. O montante saltou de US$ 11 bilhões para US$ 141,9 bilhões até o dia 9.

O resultado coloca a Vale como a 14ª maior empresa das Américas em valor de mercado, subindo 139 posições durante o governo Lula.

“No dia 16 de maio de 2008, a Vale atingiu o seu maior valor de mercado histórico com US$ 196,5 bilhões, o que a colocou na oitava colocação entre as empresas dos Estados Unidos”, completou o levantamento.

Leia mais sobre Petrobras e Vale

http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2009/11/10/valor+de+mercado+da+petrobras+cresce+1250+no+governo+lula+9059984.html

Azenha: Assim é se lhe parece

Saiu no Azenha:


Assim é se lhe parece

Atualizado em 25 de fevereiro de 2010 às 21:15 | Publicado em 25 de fevereiro de 2010 às 01:19


por Luiz Carlos Azenha


Jornalismo não é Ciência exata. Jornais erram. Jornalistas erram. Erros admitidos e reparados, tocamos em frente. Às vezes o erro tem consequências gravíssimas, como no caso paradigmático da Escola Base. O famoso "espírito de manada" muitas vezes contribui para que pecados originais de pequena dimensão se agravem. O espírito de manada funciona assim: por decisão superior ou por interesse próprio, um jornalista decide "repercutir" uma notícia que dá como fato, sem fazer a confirmação independente daquela informação. Corre o risco de repercutir o erro. De ampliar o erro. De reproduzir a premissa falsa. Já vivi essa situação, "repercutindo" reportagens da revista "Veja", na TV Globo: é como se você validasse um bilhete premiado sem ter tido a oportunidade de confirmar antes a premiação.


Assim se deram algumas das grandes "crises" que o Brasil enfrentou desde que o governo Lula se instalou no poder, como o "caos aéreo", a "epidemia de febre amarela" e a "gripe suína". Má fé, incapacidade técnica, preguiça, preconceito ideológico e a crença de que a mídia deve ser "de oposição" a qualquer custo, mesmo que ao fazer isso atropele a verdade, levaram a mídia corporativa a exagerar, distorcer ou repercutir acriticamente informações que, mais tarde, se demonstrou serem exageradas ou simplesmente fictícias.


No episódio da febre amarela, por exemplo, o texto-símbolo em minha opinião foi o "Alerta Amarelo", de Eliane Cantanhêde, da Folha de S. Paulo, em que a jornalista incentivou todos os brasileiros a correr para o posto de saúde e tomar a vacina, independentemente das contra-indicações existentes.


Ela escreveu:


Bem, o Orçamento, os impostos e os cortes de gastos estão a mil por hora em Brasília neste pós-CPMF, com ministros do Executivo, todo o Legislativo e o Judiciário em pânico diante da tesoura da área econômica do governo. O fantasma da febre amarela, portanto, paira sobre o país como um alerta num momento crucial, para que a saúde e a educação sejam preservadas antes de tudo o mais. Senão, Lula, o aedes aegypti vem, pica e mata sabe-se lá quantos neste ano --e nos seguintes.


O alerta da colunista foi apenas um texto irresponsável no conjunto da obra do mau jornalismo. A vacinação disparou. Gente que não precisava ou não podia ter tomado a vacina, tomou. Houve pelo menos um caso de morte que poderia ter sido evitada. E a febre amarela? O número de casos foi inferior ao registrado em anos anteriores, quando não houve o mesmo alarde.


No "caos aéreo", um conjunto de acontecimentos distintos e vagamente relacionados foi utilizado para provocar a demissão do ministro da Defesa, Waldir Pires, substituído por Nelson Jobim. Problemas reais de infraestrutura e de mau gerenciamento foram reunidos sob a tarja do "caos aéreo" à greve de controladores de vôo e ao acidente com o avião da TAM em Congonhas. O acidente, uma fatalidade causada por erro humano, foi atribuído ao presidente da República por um colunista da Folha de S. Paulo. Lula foi acusado, na primeira página, pelo homicidio de 200 passageiros. O psicanalista Francisco Daudt escreveu:


Gostaria imensamente de ter minha dor amenizada por uma manchete que estampasse, em letras garrafais, “GOVERNO ASSASSINA MAIS DE 200 PESSOAS”. O assassino não é só aquele que enfia a faca, mas o que, sabendo que o crime vai ocorrer, nada faz para impedi-lo. O que ocorreu não pode ser chamado de acidente, vamos dar o nome certo: crime.


No caso da gripe suína, uma epidemia real foi de tal forma "espetacularizada" que colocou autoridades públicas sob pressão para tomar medidas que, em retrospectiva, sabemos agora terem sido exageradas -- especialmente o adiamento do início das aulas em vários estados brasileiros. Na Folha de S. Paulo, o filósofo Hélio Schwartsman escreveu:


A pandemia de gripe provocada pela nova variante do vírus A H1N1 poderá atingir entre 35 milhões e 67 milhões de brasileiros ao longo das próximas cinco a oito semanas. De 3 milhões a 16 milhões desenvolverão algum tipo de complicação a exigir tratamento médico e entre 205 mil e 4,4 milhões precisarão ser hospitalizados.


A repórter Conceição Lemes desmontou de forma primorosa o texto doidivanas da Folha.


Só posso especular sobre os motivos que levaram ao surgimento desse novo jornalismo, à brasileira: decadência relativa dos jornais como formadores de opinião; denuncismo manchetista, como forma de enfrentar a competição com o infotainment; briga por um público mobilizado por outras formas e meios de entretenimento e informação (TV a cabo, DVDs, internet, celulares); demissão dos jornalistas mais experientes das redações e a centralização do poder nos aquários dos chefes; estridência de quem luta para evitar ou mascarar sua própria irrelevância; compromisso ideológico dos donos da mídia com o projeto político e econômico do PSDB/DEM.


Mas o que mais me preocupa é um fenômeno paralelo a esse, que diz respeito exclusivamente ao campo da informação, já que qualquer um é livre para dizer as besteiras que quiser nas colunas de opinião: uma certa "flexibilização" das regras do que deve ou não ser publicado, uma tentativa de legitimar novos critérios que afastam ainda mais o jornalismo da verdade factual.


Um exemplo disso foi o texto publicado na revista Veja, de autoria do repórter Márcio Aith, na famosa denúncia das contas (falsas, soubemos depois) de autoridades do governo Lula no Exterior. Na ocasião, Aith escreveu:


Por todos os meios legais, VEJA tentou confirmar a veracidade do material. Submetido a uma perícia contratada pela revista, o material apresentou inúmeras inconsistências, mas nenhuma suficientemente forte para eliminar completamente a possibilidade de os papéis conterem dados verídicos.


Leia aqui o texto que escrevi a respeito


Aqui, o texto completo publicado na revista


Antes, um repórter se esforçava para provar o conteúdo de um documento, antes de publicá-lo. Caso contrário, a reportagem ia para a gaveta ou o lixo.


Agora, pelo critério enunciado por Aith, você publica se não conseguir provar que aquele conteúdo é falso. Não parece, mas isso representa uma enormidade, já que abre as portas para publicar qualquer coisa.


É como se, no Direito, o ônus da prova fosse transferido para o acusado. Preso, teria de desprovar as acusações que o levaram à cadeia.


Isso abre espaço para, por exemplo, na véspera de uma eleição importante, você publicar qualquer denúncia, de qualquer origem, desde que não tenha conseguido desprovar a autenticidade de um documento. Falsificadores, mãos à obra: seu trabalho pode sair na capa de um jornal ou numa revista de circulação nacional. Quem sabe no Jornal Nacional.


Sim, porque mais adiante, depois dos episódios relativos ao chamado "caos aéreo", o diretor de jornalismo da TV Globo, Ali Kamel, chegou a enunciar uma teoria geral desse jornalismo frouxo, no famoso "testando hipóteses".


Em artigo publicado no jornal O Globo, em defesa da cobertura que os jornais fizeram do acidente da TAM, Kamel argumentou:


Na cobertura da tragédia da TAM, a grande imprensa se portou como devia. Não é pitonisa, como não é adivinha, desde o primeiro instante foi, honestamente, testando hipóteses, montando um quebra-cabeça que está longe do fim.


O teste de hipóteses de Kamel é uma espécie de carta branca para a especulação em busca da verdade factual. Como bom mistificador, Kamel inclui um "honestamente" ali na frase: nós, leitores, devemos acreditar piamente na honestidade dos jornais, tanto quanto acreditamos em Deus ou no ataque do Corinthians. É um convite à especulação, desde que precedido pela confissão de que, sim, estamos procurando a verdade factual.


Aith e Kamel, na prática, pregam o afrouxamento dos critérios tradicionais do jornalismo e abrem espaço ainda maior para os assassinatos de caráter, o jornalismo de dossiê e outras práticas que afastam nossa profissão do ideal de serviço público e a tornam ainda mais sujeita a ser usada como ferramenta em disputas políticas e sobretudo econômicas (como o notório comprometimento de setores da mídia com os interesses do banqueiro Daniel Dantas didaticamente expôs).


Mais recentemente, no episódio da publicação de uma ficha policial falsa da ministra Dilma Rousseff, a Folha de S. Paulo parece ter endossado esses novos critérios.


Fez isso, curiosamente, em uma reportagem em que admitia ter errado.


O texto está aqui.


No texto, intitulado Autenticidade de ficha de Dilma não é provada, escreveu o jornal:


O primeiro erro foi afirmar na Primeira Página que a origem da ficha era o "arquivo [do] Dops". Na verdade, o jornal recebeu a imagem por e-mail. O segundo erro foi tratar como autêntica uma ficha cuja autenticidade, pelas informações hoje disponíveis, não pode ser assegurada -- bem como não pode ser descartada.


Nesse caso, a Folha criou uma nova categoria para a notícia. Temos as notícias autênticas. As fraudes. E as notícias que frequentam uma espécie de limbo, que merecem ou não credibilidade, de acordo com o gosto do freguês. A essa categoria de notícias pertence a ficha policial da ministra Dilma, cuja autenticidade "não pode ser assegurada -- bem como não pode ser descartada".


No mesmo texto, a Folha cuidou de suscitar dúvidas no leitor sobre sua própria admissão de erro, no parágrafo final:


Pesquisadores acadêmicos, opositores da ditadura e ex-agentes de segurança, se dividem. Há quem identifique indícios de fraude e quem aponte sinais de autenticidade da ficha. Apenas parte dos acervos dos velhos Dops está nos arquivos públicos. Muitos documentos foram desviados por funcionários e hoje constituem arquivos privados.


Ou seja, a ficha falsa da Dilma que a Folha não encontrou nos arquivos oficiais pode estar por aí, em algum "arquivo privado", talvez o mesmo "arquivo privado" que "produziu" a ficha e a remeteu por e-mail ao jornal.


Nesse conjunto de critérios que relacionei acima cabe a publicação de qualquer coisa: dossiês até que sejam autenticados, dossiês cujo conteúdo a gente não consegue provar, nem desprovar; dossiês que a gente acredite, honestamente, serem verdadeiros. O novo jornalismo nos pede licença para mentir, distorcer, omitir, descontextualizar, exagerar, especular, espalhar boatos, lendas e fantasias.


É a vitória da verossimilhança sobre a verdade factual. Assim é se lhe parece.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

As viagens de Lula e FHC

Tem circulado um e-mail com um suposto texto de Joelmir Beting criticando as viagens de Lula. Para pior termina com uma comparação em que FHC gastou 58 Bilhões de Reais com viagens em 8 anos, o mesmo que Lula em 7. Distando no tempo os valores sequer foram corrigidos na comparação. Baixo nível mesmo. Não sei se o texto é do Joelmir, e nem de onde tiraram os valores das viagens. Mas dei-me ao trabalho de corrigir o valor informado sobre FHC até 31/12/2009 e montar os gráficos dos resultados das políticas externas e internas dos dois governos (dados oficiais).


Nunca antes nesse país (mesmo)




Resultados da Política Externa (e interna) ao longo dos dois governos (sem contar 2009)


FHC (1995 a 2002) x Lula (2003 a 2008)







DÍVIDA COM FMI (paga por Lula em 2005 e passando a credor em 2009)


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A vidente, Serra e Kassab

Saiu no Conversa Afiada

A vidente, Serra e Kassab



23/fevereiro/2010 10:35



O Conversa Afiada reproduz email sugestão do amigo navegante André AMebHa Araujo:



A vidente…

A famosa vidente, muito procurada por políticos, já concentrada, fecha os olhos e fala:
- Vejo o senhor e o governador José Serra passando em uma avenida, em carro aberto, e uma multidão acenando.
O Prefeito Gilberto Kassab sorri e pergunta:
- Essa multidão está feliz?
- Sim, feliz como nunca!
- E eles estão correndo atrás do carro?
- Sim, por toda a volta do carro. Os batedores estão tendo dificuldades em abrir caminho.
- Eles carregam bandeiras?
- Sim, bandeiras de São Paulo e do Brasil, e faixas com palavras de esperança e de um futuro em breve melhor. – Puxa!(o Serra vai amar!) Humm… bom! E nessa visão, a multidão grita, canta?
- As pessoas gritam frases de esperança: “Agora sim!!! Agora vai melhorar!!!”
- E quanto a nós, como estávamos reagindo?
- Não dá pra ver.
- E por quê não?
- Porque os dois caixões estão lacrados.

As farsas dos privatistas

Recebi um e-mail mal intencionado que mostrava uma ata de assembléia dos acionistas da Petrobrás, de 2009, em que se decidia (como é feito e publicado todo ano) os gastos com remuneração do corpo administrativo. Como os Ministros Mantega e Dilma são do Conselho que fiscaliza,  a intenção era comprometê-los perante os leitores mais ingênuos.
O texto mal intencionado, conta com a ignorância, preguiça ou também com as más intenções de vários leitores que o únio trabalho ao qual se dão, é clicar no botão encaminhar.
Aposta na ingenualidade de pessoas que esperam que tinha grupo de monges franciscanos administrem gratuitamente a Petrobrás.
Os infelizes tentam também induzir o leitor a crer que os ministros de Lula receberam os 8 milhões. Mas pesquisar um pouco e a farsa se desvela.
Em 22/03/2002, último ano de FHC na presidência (ufa!), os acionistas da Petrobrás votaram por pagar ao corpo administrativo (não confundir com o Conselho Administrativo que o fiscaliza), o montante de R$3.850.000,00 (três milhões e oitocentos e cinqüenta mil reais).
Como manda a lei, computaram nesse valor, honorários, gratificações de férias e natalina (13º salário), participação nos lucros, bônus por desempenho, benefícios decorrentes da previdência privada complementar e do seguro-saúde, bem como auxílio-moradia, fosse em 2002, fosse em 2009.
Esses 3,85 milhões corrigidos pelo IPCA-IBGE entre 22/03/02 e 08/04/2009 chegam a R$ 6.244.396,46. Suponho que o valor a mais de 2009 se deva à participação nos lucros da Petrobrás que evoluiu dos 2 Bilhões de Dólares do último ano de FHC (em queda) para mais de 18 Bi (US$) – um crescimento de 900% no governo Lula (veja a diferença no gráfico).

FHC vendeu a Vale por um valor tão ridículo que em um ano, a empresa lucrou o valor pago ao governo pelo desmonte de nosso patrimônio. O maior escândalo da era privatizante do Brasil. O mesmo pretendia fazer com a Petrobrás, FHC e seu ministro do desplanejamento, José Serra. O processo de sucateamento já havia sido iniciado, mas foi interrompido em tempo.
A Petrobrás expandiu seus lucros e investimentos acompanhando a política externa do governo Lula, o que fez seu valor de mercado subir 1250% durante o governo petista. Pulou de 118º colocada na era FHC para 3ª entre as maiores das Américas, chegando a segunda em 2008, somente atrás da Exxon (veja mais).A participação dos ministros mais importantes no conselho da Petrobrás para fiscalizar sua gestão é mais uma demonstração de um Estado planejado que investe em estatais como a Petrobrás, controla sua política, permitindo criar inúmeros empregos, inclusive pela decisão do governo Lula de focar o investimento na indústria nacional. Como publicou a Folha em 29/11, “Indústria naval renasce e já é a 6ª do mundo”, mostra que a indústria naval brasileira ressurgiu na esteira das encomendas da Petrobras e tem um estímulo adicional graças à descoberta do pré-sal. Em nove anos, empregos subiram de 2.000 para 45 mil. E, segundo o jornal, O número deve aumentar nos próximos anos com a instalação prevista de cinco novos estaleiros – cada um pode ter até 3.500 funcionários. Um desses estaleiros, obra do PAC em Pernambuco, tem sido usado pelo Presidente do PSDB que é Senador pelo estado, na propaganda política dos tucanos. Esse cara é aquele que disse à Veja que o PAC não existe.
A Vale pôde crescer também no governo Lula, porém um pouco menos: 1190%. Seus administradores também souberam faturar e crescer nessa nova era. Pena que a Vale não é mais nossa.



Pesquisa ou propaganda gratuita?

A lei eleitoral no Brasil permite a campanha somente alguns meses antes das eleições. As pesquisas eleitorais, por outro lado, são permitidas e presentes periodicamente anos antes. Não sei se há “pesquisas” sobre sua influência no resultado das eleições. Elas são um mal necessário. Necessário porque orientam as estratégias, organização e alianças dos partidos políticos. Mal porque elas não deveriam influenciar o voto das pessoas, mas provavelmente o fazem. Muitas pessoas com quem discuto, umas mais, outras menos politizadas, têm demonstrado uma crença firme nas pesquisas como um retrato fiel do que vai acontecer daqui há vários meses. Geralmente não leram nenhum artigo ou analisaram seus números. No geral, viram na televisão quem estava na frente, e isso basta. Se isso muda o voto dessas pessoas, não sei.
Não entrarei também na discussão sobre as possibilidades de manipulação dos dados dos institutos que não deixam clara a metodologia, e que tem seu representante mais conhecido, ligado à maior emissora de TV, e com grave denúncias sobre manipulação de dados sobre audiência e controle do mercado bilionário de anunciantes. Ainda, não tratarei o uso tendencioso que a grande mídia faz e a elaboração de suas manchetes.
Pretendo apenas demonstrar que as pesquisas escondem números que se observados e analisados corretamente pela mídia e mesmo pelos institutos, anulariam a força com que as pesquisas tomam forma na cabeça das pessoas, especialmente, quanto a sua capacidade de prever resultados nove meses antes. Vejamos a última pesquisa do Ibope que aponta para um maior crescimento de Dilma, antes uma figura desconhecida do cenário político (para quem não acompanha política), devido, provavelmente à exposição maior na mídia. A ironia é que a mídia buscando denunciar antecipação de campanha ou criar “novas crises” do governo, a tornou mais conhecida, associando sua imagem à de Lula que tem o recorde de 80% de aprovação. Serra sabe o verdadeiro significado das pesquisas, e por isso, não definiu se será candidato a Presidente ou Governador. O interessante é que os eleitores que crêem em pesquisas tem certeza que ele é candidato è Presidência, quando os próprios tucanos já não sabem. Por isso, Serra se esconde do confronto com Lula, de ser associado a FHC, de suas associações com o Arruda preso e o Kassab cassado, ou de ser responsabilizado pelas mazelas paulistas. Pois, além da Globo, da Folha e da Veja, dentre outros, Serra conta com o fato de ter seu nome conhecido pela candidatura de 2002, o que o tem mantido no topo das pesquisas, porém, não mais nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Mas o que mais interessa não está na pesquisa em que se apresenta aos pesquisados uma lista dos candidatos. Com ou sem Ciro, ou Aécio, ou quem quer que seja. Os números interessantes estão escondidos na pesquisa espontânea, quando é perguntado em quem o entrevistado iria votar, sem lhes oferecer opções. Em segundo lugar, há empate técnico entre Serra (10%) e Dilma (9%), seguidos de longe pelo Tucano Aécio Neves (3%), enquanto os outros presidenciáveis não passam de 1%. O primeirão é Lula, com 23%. E os que não escolheram ninguém chegam a 52% no Brasil e 63% na Região Sul, onde são mais numerosos. Não importa a renda, tem muita gente que não sabe que Lula não pode ser candidato. Tem 13% na faixa de mais de dez mínimos, e sobe para 15%, 21%, 26%, até chegar a 29% na "faixa do Bolsa Família". Imaginem quantos desses que querem votar no Lula ou que não decidiram, quantos poucos sabem mesmo quem são Serra e Dilma. Quando lhes apresentam uma cédula sem Lula, eles tendem a votar em quem mais conhecem. Serra e Ciro sobem.
Mas o que os tornaram conhecidos? A campanha eleitoral. Em especial, a propaganda eleitoral gratuita. Por mais que as pessoas reclamem, essa tem se mostrado realmente fundamental para a decisão dos eleitores. Ou melhor, quando chegar a eleição, se votarem em Dilma, Serra, Aécio ou Ciro, eles saberão de quem se trata, e porque votaram, ao menos com base no que viram na TV. Por isso, querer prever as eleições antes da campanha, a partir de pesquisas, é inútil. Elas servem aos partidos, não a nós, eleitores. O que podemos é imaginar a campanha em si. Aposto que teremos dois discursos principais: um de continuidade deste ciclo de crescimento que o Brasil consolidou, só que agora com maior sustentação e apoio para saltos ainda maiores; o outro discurso, eu não sei. E pelo que parece, nem os adversários de Lula.

Você votará nisso?

Recebi um e-mail com uma foto da Dilma com um jaleco e boné militar e um charuto introduzido por edição de imagem. A imagem fazia uma alusão a Fidel. O título era "Você votará nisso?"

Respondi no mesmo tom:

EU É QUE PERGUNTO?


Serra é “flagrado” em Recife. Fugiu do sambódromo paulistano e evitou “a chuva” de vaias da população enlameada pelos 4 metros de terra sob o Tietê, resultado de 4 anos sem limpeza da calha.
Lá em Recife tentou fazer um teste de popularidade... desfilando entre os foliões. Batia nos ombros e se apresentava ... Serra quem?
A última do Serra, versão “eu adoro essa gente” foi na Praia Grande que como todo o litoral santista e sul sofre da diarréia causada pelos microorganismos da SABESP. Entrou no mar com tênis, calça e camisa pólo e brincou de jogar água na cadeirante. Surpresa e perplexa, sua staff preferiu não divulgar muito o evento.
É o desespero. Afinal, o que mais ele pode fazer? Comparar os governos Lula x FHC? Qual é a plataforma tucana? Vai mudar o quê na economia brasileira? Vai sugerir que os 32 milhões de brasileiros que subiram de classe retrocedam? Vai aplicar o modelo de gestão do Tietê, do metrô e do Rodoanel nas obras do PAC? As mesmas obras que o Presidente do PSDB usa para fazer propaganda em Pernambuco, e diz à Veja que não existem? Vai propor o retorno do modelo FHC de combater as crises mundiais quando quebrou o Brasil 3 vezes?
É melhor ficar calado mesmo. Como tem feito esse tempo todo que choveu.
Detalhe: as fotos não são montagens!

Do que os paulistas riem...

Freud disse em um de seus estudos que havia dois tipos de piada: as inócuas e as tendenciosas. As primeiras são capazes de provocar o riso pela surpresa e pelo jogo de palavras. As segundas cumprem a finalidade de satisfazer desejos inconscientes. O riso é alcançado, em alguns casos, mexendo-se com a aversão que as pessoas têm pelas diferenças, zombando-se de estereótipos. Libertarmo-nos de nossas inibições para expressar instintos agressivos, sexuais, cinismo, etc. São usadas para que possamos expressar aquilo que, de outra forma, não poderia ganhar expressão a nível consciente.
Piadas que estimulavam o preconceito contra negros circulavam com mais freqüência os círculos brancos até, felizmente, se tornarem politicamente incorretas e crime. Lembro que na minha adolescência (antes da internet) circulava um ficha xerocada de associação ao Corinthians. Era perguntado coisas como se você era preto, nordestino, com profissão desempregado, gari, sindicalista, presidiário, se a mãe era prostituta, se conhecia o pai, se morava na favela, quantos irmãos (somente opções acima de cinco), se era banguela, pinguço, só pérolas. Uma pesquisa rápida no Google e você encontra a sua versão digital e atualizada nos critérios “politicamente corretos” de quem a bolou. Agora, a opção “preto” e “nordestino” não mais se explicitam.
Flamengo e Corinthians possuem as duas maiores torcidas do Brasil, superando juntas mais de 30% da população. A popularidade desses times concentra-se nas classes baixas, e distribuem-se, além de suas casas, por diversos Estados do Brasil, especialmente no Nordeste, tornando-os times de massa. Não sei como acontece no Rio, mas em São Paulo, o Corinthians é zombado justamente por ser um time símbolo do povão, ou seja, para alguns, de “preto e pobre”. É claro que há brancos e negros, pobres e ricos, nas duas torcidas. Mas para quem faz piadas com estereótipos, tanto faz. O óbvio é que o alvo das piadas não eram os corintianos, mas aqueles que o símbolo do time representava. Basta identificar as características e grupos sociais atacados pela brincadeira com corintianos, seja esta da ficha, ou outras recorrentes em e-mails.

A mesma tal ficha eu vi alguns anos mais tarde, no final dos anos 80, sem mudar nada no conteúdo (preconceito racial ainda não era crime). Só que aquela era para “filiação ao PT”. O PT, que se erguia das militâncias dos movimentos sociais, fortalecidas pelo processo de redemocratização, caminhava para se tornar um partido de massas, apesar da pouca cultura partidária do país após o fim do regime militar. O discurso da militância voltado para classes e grupos oprimidos da sociedade, negros, mulheres, nordestinos, pobres, passou a compartilhar com corintianos, o foco do ódio das classes dominantes. Sem nenhuma surpresa, esse ódio sempre pareceu ser maior na tradicional São Paulo. Mesmo com todo o desgaste do último mandato de FHC, pela fraca e inconsistente situação econômica deixada ao sucessor, as eleições de 2002 mostraram que Lula precisou de maquiagem, marqueteiro, muita propaganda, e uma carta de intenção aos capitalistas, o que a mídia chamou de versão “lulinha paz e amor”. Lula se enquadrava em vários quesitos daquela ficha dos anos 80. Até corintiano é. Com terno, gravata e um discurso menos agressivo, Lula precisou vencer, além do medo da Regina Duarte, o preconceito, não só de parte da classe média, mas das classes mais baixas que, como em toda sociedade opressora, reproduzem o preconceito, inclusive sobre si mesmas. Auto-estima em baixa é uma das melhores estratégias de dominação. Isso serve para pais dominadores ou para elites controlando a força de trabalho.
A verdade é que boa parte dos brasileiros recuperou ou conquistou a auto-estima, como apontam as pesquisas. Seja pelo respeito alcançado lá fora, por Lula como estadista e pelo Brasil pela capacidade de superar crises com um modelo de estado intervindo na economia, os brasileiros que eram alvos de piada, estão mais confiantes em si mesmos. Talvez porque 32 milhões migraram para classes econômicas superiores. Em oito anos, a renda dos 10% mais pobres da população cresceu 72% (igual ao chinês), e a renda dos 10% mais ricos cresceu 11%. O Brasil não só cresceu como distribuiu renda. A aprovação de Lula, superior a 80%, legitima e o consolida como novo símbolo desse Brasil alvo de piadas, seja contra corintianos, seja contra petistas. Agora, ele mesmo é o foco das piadas, não importa o que tenha conquistado em seu mandato. Dentre os milhões de e-mails diários, vários riem de Lula. Analfabeto, vagabundo, pinguço, dentre os adjetivos mais amenos. Não importa o que digam a Economist, the Los Angeles e the New York Times, Frankfurter Allgemeine Zeitung ou El País. Não importam os números, nem o Brasil. Se valem da Globo, Veja, Folha e Estadão, e até do Jornal do Boris ou mesmo e-mails com notícias falsas, que nem a nossa pior mídia se atreve a publicar. Mas a agressão a Lula e a tudo que ele representa, circula pela rede principalmente em forma de piada. Recebo dezenas piadas todo mês. Provavelmente, porque muitos que manifestavam seu preconceito, ou racismo, contra porteiros, pedreiros e garis estão reprimidos. Não sei se Freud explica a agressividade contra a melhoria de vida de quem sempre serviu de mão-de-obra barata. Na verdade, não entendia do que eles riam. Talvez sejam somente paulistas fazendo campanha para o Serra, e querem o modelo de gestão da SABESP, do Tietê, do Rodoanel e da linha amarela do Metrô para o PAC. Ou querem o retorno do modelo FHC que quebrou o Brasil em três crises. Por fim, acho que entendi o motivo de tanta piada: essa gente só pode estar brincando.


Em tempo:
Após a postagem original encontrei uma "ficha de filiação ao PT" (abaixo) em um fórum. Observe que ela não é muito atual (provavelmente antes de Lula se eleger pela primeira vez) e que ainda mantém o preconceito contra nordestinos e negros. Pergunta: "Se o lula for eleito, qual o seu maior desejo, além é claro de casar com mulher branca, ..." Entre as opções:"(  ) Voltar para o nordeste"


Interessante são os comentários deixados pelos seguidores. A língua tentada é a portuguesa, porém ainda não descobri como se pronuncia a maior parte.
1) hauahuiahuehuahueh pt eh foda msm!
2) hauhahauhauhau
3) iueahsuiahseuiaeshuiashiasehiaeshiasehiuaehiaeus
4) ahhahahahahahahahhahahahahahhahahahahhahah

bagunçaram legal o partido1!!!!
rsrsrsrsrsrsr
5) AHUhuahUHAUhuahUHAUhuahuHAUhauHAUhauhuAUHuha boa!!!!!!


PT é fuds!
6) PT FEDE -->> -->>


:puke: :puke: :puke:
7) Na verdade essa ficha foi criada para quem queria ser sócio do Conrinthians... Mas como tudo na vida nada se cria, tudo se copia!!!!

Foi se feito isso!!!
Abraço
8) auehuHUHHEuhUheuhUhEUhHEuHUHueaheuhaueauheuhaaa

PT sux.....
9) eu soh tinha visto a do flamengo :P
e por aí vai...
Segue a tal ficha:



PARTIDO DOS TRABALHADORES
Diretório Zonal
Rua dos Andradas, 09 - 1º ao 9º andar


QUESTINOÁRIO PARA PROPOSTA DE ADESÃO AO PARTIDO



Nome...........................................................................................
Acunha........................................................................................

Local de nascimento: ( )Favela ( )Metrô ( )Delegacia
( )Zona do Meretrício ( )Sob o minhocão

Estado civil: ( )Amaziado(a) ( )Juntado(a) ( )Largado(a)
( )Bigamo(a) ( )Trigamo(a) ( )Cornudo(a)


Profissão: ( )Desempregado ( )Trambadinha ( )Trombadão
( )Sem terra ( )Traficante ( )Agitador
( )Sem teto ( )Invasor ( )Indigente


Filiação: Pai....................................Não sabe.................................
Profissão do pai: ( )Grevista ( )Tomador de conta de automóveis
( )Piqueteiro ( )Bebado ( )Terrorista
( )Assaltante ( )Sambista ( )Ladrão
( )Alcaguete ( )Traficante ( )Sequestrador

Mãe:...............................................Nome de guerra:....................
Profissão da mãe: ( )Prostituta ( )Fabricante de menores abandonados
( )Sapatona ( )Mendiga com ou sem criança no colo
( )Biscate ( )Cafetina de bordel
( )Pedinte


Quantos filhos você tem:
( )Com seu companheiro(a)
( )Com seu(sua) ex
( )Com seu irmão(ã)
( )Com seu tio ou tia
Quantas vezes você foi preso: ( )até 5 vezes
( )de 5 a 10 vezes
( )de 10 a 20 vezes
( )mais de 20 vezes


Se o lula for eleito, qual o seu maior desejo, além é claro de casar com mulher branca,
aprender a falar e escrever como gente, se apossar de uma casa com banheiro, ou instalar
um embaixo da ponte onde mora?
( )Participar da caixinha da Lubeca
( )Conhecer pessoalmente o Fidel
( )Paquerara Erundina (se for mulher)
( )Vender pipoca na porta do Palestra Itália
( )Ganhar uma barba postiça
( )Deixar de ser chifrudo dos próprios companheiros
( )Voltar para o nordeste

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