domingo, 31 de outubro de 2010

Folha. Juntando os cacos sem cola

O papel de Ombudsman em um jornal é principalmente servir como ponto de reflexão e auto-crítica pelo veículo de informação. Nesta campanha, em apenas dois momentos, a Folha resolveu tornar público que se deu conta da existência daquilo que eles tratam como um submundo sombrio, a rede, a internet. Mediante o fato de que a internet vem crescendo como veículo interativo da informação e concorrendo com os meios tradicionais de comunicação, não há de se esperar que a velha mídia possua boas relações com tal novidade. A estratégia tem sido a dos candidatos que estão à frente nas pesquisas: não aceitar provocação e fingir que não é com ele. O primeiro episódio em que a Ombudsman Suzana Singer lembrou que a concorrência incomodava foi no episódio do twiter, quando o movimento batizado de #Dilmafactsbyfolha virou um dos assuntos mais populares ("trending topics") do Twitter em todo o mundo (leia aqui). Os internautas postaram milhares de manchetes falsas contra Dilma como sugestão para a Folha, ridicularizando a manchete claramente eleitoral do domingo 05/09, "Consumidor de luz pagou R$ 1 bi por falha de Dilma", em que conforme a própria Suzana, uma semana depois admitia que a Folha avançara o sinal. Esqueceram que a internet permite hoje, o direito de resposta que os jornais negam a seus réus. O vídeo de Dilma respondendo à Folha pipocou de blog em blog (aqui). Ignoraram que a crítica é construída e reconstruída por toda a rede. Substimaram que há formação de opinião além da mídia tradicional e que há reação.

Mas a auto-crítica de Suzana não mudou a linha editorial da Folha. Mantiveram a atitude de quem está ganhando o jogo. Fingiram que a blogosfera não existe. Sempre preocupados com a panfletagem articulada das denúncias vociferadas contra Dilma por Serra, nunca escreveram uma linha para explicar ao seu público o que o candidato queria dizer com “blogs sujos”. Na última semana de campanha, abandonaram o Titanic de Serra, publicando o escândalo das licitações de cartas marcadas do Metrô, com a expectativa de resgate da credibilidade perdida. Apenas no dia em que se definirá o(a) próximo(a) Presidente da República, com todas as pesquisas indicando 10 ou mais pontos de vantagem para Dilma Rousseff, ou seja com a situação praticamente definida, é que a Folha resolveu lembrar-se novamente da rede. Mas agora é para responsabilizá-la por “boatos” que levaram as pessoas a suspeitarem de que a Folha tinha um lado. A ombudsman, como pode ser lido no post de Nassif, chama delírios anti-imprensa o movimento de índignação e protestos de seus próprios leitores. Ora, como disse Emir Sader em entrevista a Conceição Lemes no Viomundo, “não nos esqueçamos que a dona Judith Brito, executiva da Folha e vice-presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), disse que eles são um partido político.” Otávio Frias Filho, dono da Folha participou do “encontro público (a R$ 500,00 por cabeça) organizado pelo Instituto Millenium” onde os lacaios de Globo, Abril, Folha e Estadão explicitaram os objetivos de impedir a eleição de Dilma Rousseff e a aprovação das deliberaçoes de democratização dos meios de comunicação aprovadas pela Confecom (leia mais aqui e aqui). Não é preciso nem analisar o conteúdo da imprensa para dizer se ela tem um lado. Mas sempre esse papel foi cumprido pela blogosfera como já escrevi aqui. Por que a Folha esperou a Dilma trazer o assunto no debate para falar sobre Paulo Preto? Por que a Folha esperou a advogada de Eduardo Jorge lhe trazer os conteúdos da Polícia Federal quando as informações sobre Amaury Ribeiro Jr. estavam nos sites do Azenha, do Nassif, do Amorim, para não citar outros jornalistas e blogueiros? Por que ao tratar deste assunto, preferiu focar nas supostas ligações de Amaury com a campanha de Dilma, e ignorar as informações do jornalista de que o dossiê e quebra de sigilos foram encomendados por Aécio contra Serra? As informações estavam por aqui. Quem omitiu ou era mal informado ou mal intencionado.

Mesmo que agora a Folha decida entregar a cabeça de Serra em uma bandeja, dificilmente vai resgatar a credibilidade perdida. Deitaram e rolaram. Passadas as eleições e com seu candidato supostamente derrotado, tentam rapidamente arrumar a casa e limpar os vestígios de seu jogo sujo, como se fosse possível. Ao olharem para a frente, esquecendo ou querendo que esqueçam o que fizeram, dão de cara o fantasma dos Conselhos de Imprensa. A proposta apoiada até por setores do DEM e do PSDB, como disse Jânio de Freitas no artigo também publicado por Nassif, é tratada como chavismo. Se eles vão continuar a fingir que esta blogosfera não existe, eu não sei. Mas com certeza, podem contar conosco em campanha permanente pela implementação das deliberações aprovadas na Confecom.

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