sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Altamiro Borges: Marina e o “apetite por cargos” do PV

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Marina e o “apetite por cargos” do PV

Por Altamiro Borges
O jornalista Bernardo Mello Franco, da Folha, fez uma revelação ontem (7) que confirma as tensões na cúpula do Partido Verde. “Em reunião fechada com aliados, a candidata derrotada do PV à Presidência, Marina Silva, atacou a gula de dirigentes do partido por cargos e afirmou que não vai ´se apequenar´ nas negociações do segundo turno. Ela se mostrou irritada com a intenção do núcleo da campanha de José Serra (PSDB) de oferecer quatro ministérios em troca do apoio do PV”.
Ainda segundo a reportagem da insuspeita Folha, “em tom de ironia, Marina criticou o fisiologismo de parte da cúpula verde, sugerindo que a oferta seria alta demais para alguns dirigentes de seu partido”. Na reunião fechada, que teve a presença do teólogo Leonardo Boff – que já declarou apoio a Dilma para derrotar o “neoliberal Serra” -, a presidenciável do PV insinuou que tende a ficar “neutra” no segundo turno. A decisão deveria ser anunciada na convenção marcada para 17 de setembro.
Racha na cúpula verde
A “reunião fechada” causou estragos na direção do PV. Apesar do presidente do do partido, José Luiz Penna, rechaçar as criticas ao seu fisiologismo, ele tem o pé em várias canoas. No governo Lula, cumpre importante papel no Ministério da Cultura. Já em vários estados, o partido está umbilicalmente ligado aos demotucanos. Participou da prefeitura do Rio de Janeiro na gestão do demo César Maia – que acaba de ser rejeitado nas urnas. Em São Paulo, participa do governo estadual, controlado pelos tucanos, e na prefeitura da capital, dirigido pelo demo Kassab.
Para o segundo turno, dirigentes do PV já tinham declarado publicamente seu apoio a José Serra – sem ouvir a própria candidata, a maior responsável pela expressiva votação da legenda no primeiro turno. Com suas críticas ao “apetite por cargos”, Marina despertou a ira da direção do partido. “Próxima ao PSDB, a cúpula verde ameaça boicotar a convenção do dia 17 e anunciar apoio a Serra na semana que vem, à revelia da ex-presidenciável”, relata hoje (8) o UOL.
Minoritária da direção do partido
Segundo a matéria, “Marina foi duramente atacada na reunião organizada às pressas pelo presidente da sigla, José Luiz Penna, em Brasília. Participaram cerca de 20 pessoas, algumas com cargos no governo paulista e na Prefeitura de São Paulo, administrada pelo DEM. A senadora não foi chamada. No encontro fechado, o grupo de Penna acusou a candidata derrotada de desrespeita a cúpula do partido, ao qual se filiou em agosto de 2009”.
Numa nítida provocação à candidata, José Luiz Penna convocou reunião da executiva nacional do PV para a próxima quarta-feira (13), que pode precipitar a decisão da legenda. O grupo de Marina Silva, recém-ingresso no partido, tem apenas 10 dos 60 votos da executiva. “A tendência é pela aprovação do apoio a Serra”, garante o UOL. Nos bastidores, o clima é de guerra. Marina cancelou a reunião com a direção do PV e insiste que deseja debater “compromissos programáticos”; já a cúpula verde tucanou e assume “compromissos fisiológicos” com José Serra.
A encruzilhada de Marina Silva
Como se observa, a situação do PV é delicada. Marina Silva obteve quase 20% dos votos por várias razões. Numa avaliação generosa, ela surpreendeu porque expressou as justas preocupações ambientais, críticas às limitações do governo Lula e a busca de alternativa diante da polarização PSDB-PT. Numa leitura mais crítica, ela foi inflada pela mídia para viabilizar a ida de Serra para o segundo turno e colheu os votos conservadores, com base na manipulação religiosa rasteira.
Agora, PV e Marina Silva estão na berlinda. A tendência, como apontam vários especialistas em eleições, é que ocorra uma dispersão dos votos “verdes”. O problema não é apenas eleitoral. É político. Quanto ao PV, ele continuará sendo um partido sem consistência programática – nem mesmo a questão ambiental é levada muito a sério por sua direção. O maior dilema é mesmo o de Marina Silva. Ela servirá ao retrocesso neoliberal, maior inimigo do desenvolvimento sustentável, ou apostará na continuidade das mudanças no país? É uma baita encruzilhada!

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